Com direção de António Pinto Ribeiro, o Programa Gulbenkian de Cultura Contemporânea «Próximo Futuro», ativo entre 2009 e 2015, foi uma plataforma interdisciplinar que promoveu reflexões descentralizadas sobre a atualidade.

Entre as muitas linhas que orientaram a programação, estiveram ciclos sazonais de arte pública, apresentados no verão, e com coordenação técnica de Jorge Martins Lopes. Promoveram projetos artísticos especificamente concebidos para os espaços dos Jardins Gulbenkian (Jornal Próximo Futuro, n.os 4, 7 e 10, 2010-2011).

Casulo, de Nandipha Mntambo (1982), foi uma das seis intervenções que ocuparam os Jardins entre 16 de junho e 30 de setembro de 2011 (Jornal Próximo Futuro, n.º 7, 2011, pp. 26-29). A obra foi instalada numa das margens do lago, nas traseiras do Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian. Tratava-se de uma construção efémera habitável, edificada com canas de bambu e outros materiais vegetais (alguns deles existentes na flora circundante). A sua forma, de forte apelo orgânico, convidava o visitante a entrar no habitáculo e a uma experiência de fruição que se unia, ambientalmente, à vivência dos jardins. Um foco de luz, instalado no interior, fazia que a obra irradiasse com o entardecer e o cair da noite, período em que aconteciam diversos eventos da programação do «Próximo Futuro». Na documentação interna associada a esta instalação, constam algumas fotografias dos arcos nupciais construídos pela ave Chlamydera nuchalis, ou pássaro-jardineiro (great bowerbird), indiciando o pendor biónico associado à peça de Mntambo.

Deste modo, a instalação de Nandipha Mntambo explorava diálogos entre a escultura land art e a arquitetura ecológica, problematizando o binómio natureza/cultura. Permitia interrogar a ritualização do espaço e dos lugares, sublinhando o corpo – um dos centros das reflexões da artista – como um sistema em que sensibilidade e espiritualidade se sincronizam no cômputo sinestésico.

A peça foi montada com o apoio técnico do estúdio de arquitetura Terrapalha – organização fundada em 2008 pela arquiteta Catarina Pinto, que a coordena. Em 2013, Catarina Pinto apresentaria nos Jardins Gulbenkian a instalação Cabana, integrada no ciclo «Arte Pública» do «Próximo Futuro» para o verão desse ano.

Em simultâneo com Casulo, estiveram expostos outros cinco projetos nos espaços dos Jardins Gulbenkian: However Incongrous, do coletivo Raqs Media; Abrigo Sublocado, de Kboco; o segundo momento de Chapéus-de-Sol, de Inês Lobo (com participação de artistas convidados); a Tenda, que transitou igualmente do ano anterior; e a intervenção de Rodrigo Oliveira e Raquel Melgue na Roulotte, suporte para propostas de diversos artistas ao longo das várias edições do ciclo «Arte Pública» do «Próximo Futuro».

Os Arquivos Gulbenkian guardam uma reportagem fotográfica da autoria da artista portuguesa Catarina Botelho (1981) que cobre vários eventos da edição e 2011 do «Próximo Futuro» (Arquivos Gulbenkian, CDVD 1424). Várias dessas imagens centram-se em Casulo. Uma delas dá a ver a peça ainda em fase de construção. As restantes permitem apreciar como a instalação se articulou com a paisagem da área dos jardins que lhe esteve afeta e com o público que por elas transitava.

Na imprensa, mencione-se a breve crítica de Celso Martins às várias intervenções patentes no ciclo «Arte Pública» da edição de 2011 do «Próximo Futuro». A instalação de Mntambo surge destacada nesse artigo (Martins, Expresso. Atual, 25 jun. 2011, p. 20).

No mesmo ano em que apresentou Casulo nos Jardins Gulbenkian, Nandipha Mntambo foi merecedora do Standard Bank Young Artists Award for Visual Art. O blogue do Programa «Próximo Futuro» deu nota dessa distinção, bem como de outras iniciativas relacionadas com a artista, como a individual «The Unspoken», no início de 2012, na galeria Stevenson, em Joanesburgo, ou a sua participação na coletiva «Ars 11 – Changes your perception of Africa and contemporary art», no Kiasma de Helsínquia, em 2011. Esta última, contou com a presença de outros dois artistas que expuseram nas edições do «Próximo Futuro», nomeadamente o sul-africano Pieter Hugo (1976) e o camaronês Barthélémy Toguo (1967).

As plataformas online associadas ao «Próximo Futuro» aliaram a divulgação das atividades da programação à missão de fazer um acompanhamento mais alargado de iniciativas relacionadas com autores, organizações e instituições envolvidos neste programa Gulbenkian.

Daniel Peres, 2020