Paisagem na Coleção do CAM

Exposição coletiva organizada pelo Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP), com curadoria de Ana Vasconcelos. Integrou uma vasta seleção de obras de 25 artistas portugueses do século XX representados na coleção do CAMJAP, propondo uma reflexão sobre a paisagem natural e a sua representação artística.

Dos artistas portugueses selecionados destacam-se nomes como João Cristino da Silva (1829-1877), Fernando Calhau (1948-2002), Alberto Carneiro (1937-2017), Luís Noronha da Costa (1942-2020) e Fernando Lemos (1926-2019). Entre os artistas internacionais, Michael Biberstein (1948-2013) ou Thomas Joshua Cooper (1946).

A exposição integrou diversas pinturas de paisagem (romântica, naturalista, modernista, etnográfica, marítima ou vistas urbanas), um conjunto de fotografias e filmes, instalações de land art de Hamish Fulton (1946) ou de Alberto Carneiro, e outras obras de «tendência minimal, que oferecem uma reflexão mais distanciada sobre a situação inevitavelmente ideologizada, e com maior ou menor carga subjectiva, de todas estas representações» (Paisagem na Coleção do CAM, 2012).

Em 1493, o poeta Jean Molinet utilizou pela primeira vez o termo «paysage» para designar uma composição representando uma região (pays). A partir de então, e integrando o dicionário de latim-francês de Robert Estienne, em 1546, a paisagem surge definida «enquanto mediação entre diferentes níveis de visibilidade, deslocando-se o seu sentido necessariamente entre dois pressupostos complementares: a capacidade de apreensão pelo sujeito dos dados do mundo físico, através do contacto directo com a natureza, e a capacidade de transcrição e de interpretação dessa experiência, convocada no acto da sua representação (visual, musical, literária, performativa, etc.). É ainda, e em primeira mão, uma experiência narrada, poética, literária, cujo registo físico directo precisa de ser culturalmente filtrado para ganhar expressão» (Paisagem na Coleção do CAM, 2011, p. 2).

De acordo com Ana Vasconcelos, a exposição quis dar resposta a duas ideias fundamentais: demonstrar a atualidade do conceito enquanto «veículo do discurso estético, ético, político, antropológico, artístico [e] literário» e abordar a noção conceptual de paisagem como elemento «espácio-temporal que ganhou uma expressão hierarquizada no quadro civilizacional urbano-renascentista europeu» (Ibid.). Sem um olhar não existe paisagem, e foi a partir desta noção que Michael Jakob definiu na sua obra Le Paysage (2008) a fórmula «P = S + N», ou seja, «Paisagem = Sujeito + Natureza». É o olhar do sujeito que cria a paisagem, e a paisagem é sempre uma representação da natureza.

No panorama artístico português, a representação da paisagem não foi, de acordo com a curadora responsável, particularmente intensa. Não obstante, o século XIX foi alvo de um aparecimento notável de pintores paisagistas, entre os quais se destaca João Cristino da Silva, autor da obra Recuar da Onda (c. 1857), presente nesta iniciativa.

A exposição ocupou o Piso 1 e a Sala de Exposições Temporárias do Centro de Arte Moderna. Esta última foi o espaço dedicado ao «mar», tema desenvolvido por um grande número de artistas, principalmente após a década de 1960. O mar é o elemento unificador da costa portuguesa, sendo um tema bastante explorado no imaginário nacional. Filmes de Fernando Calhau, «Mar I, II e III» (1976), uma obra do pintor Cristino da Silva, fotografias de Rui Moreira (1971) e Thomas Joshua Cooper ou esculturas de Luís Noronha da Costa foram algumas das obras expostas.

Foram incluídos na mostra vários desenhos e óleos de Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918), pinturas de António Carneiro (1872-1930), fotografias de Gérard Castello-Lopes (1925-2011), Nuno Cera (1972), Adelina Lopes (1970), Jorge Barradas (1894-1971) e Carlos Botelho (1899-1982), raramente vistos pelo público.

Além das habituais visitas guiadas e visitas temáticas organizadas pelo Serviço Educativo do Museu, a exposição foi complementada pela publicação de um caderno contendo um breve ensaio assinado pela curadora Ana Vasconcelos e a reprodução de algumas das peças.

A inauguração no dia 11 de novembro de 2011 contou com a presença do presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Emílio Rui Vilar, de Ana Vasconcelos e de alguns dos artistas representados, entre outras entidades.

Joana Atalaia, 2019