A Simples Contagem das Ondas. Thomas Joshua Cooper

Exposição individual retrospetiva do fotógrafo norte-americano Thomas Joshua Cooper (1946), organizada pelo Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão. Reuniu um conjunto de trabalhos realizados entre 1969 e 1994, incluindo o mais recente, que registou alguns cabos do território português, com uma relação histórica ao período do Descobrimentos Marítimos.
Individual retrospective exhibition on North American photographer Thomas Joshua Cooper (1946) organised by the José de Azeredo Perdigão Modern Art Centre. The show brought together a selection of works produced between 1969 and 1994, including the artist’s most recent work documenting capes with historical ties to the period of the Maritime Discoveries along the Portuguese coast.

A exposição retrospetiva da fotografia de Thomas Joshua Cooper (1946) esteve patente, entre 7 de dezembro de 1994 e 5 de março de 1995, na Galeria do piso 1 do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP). A mostra foi o resultado de uma colaboração entre o fotógrafo Jorge Molder, diretor do CAMJAP, David Bellingham, historiador da arte, Catherine A. Mooney, mulher de Cooper, e Ana Vasconcelos e Melo, assistente de curadoria no CAMJAP. O fotógrafo, que assistiu à inauguração da exposição, deu uma conferência aberta ao público, no Ar.Co, a 5 de dezembro de 1994.

«A Simples Contagem das Ondas. Thomas Joshua Cooper» reuniu 139 trabalhos realizados entre 1969 e 1994, tendo como objetivo apresentar ao público português o percurso artístico desenvolvido pelo fotógrafo norte-americano, chamando a atenção para a sua consistência. A exposição organizou-se segundo várias séries, ordenadas a partir de temas e de lugares, sendo realçados, de acordo com o comunicado de imprensa emitido pelo CAMJAP, os conjuntos realizados em Portugal no início de 1994, intitulados North and South e The World's Edge, adquiridos pela Fundação Calouste Gulbenkian, no final de 1996.

Tal como o fotógrafo afirma no texto de apresentação do catálogo, o trabalho foi realizado «nas margens, na periferia das terras povoadas e cultivadas», em sítios de fácil acesso mas que passam despercebidos, sendo de grande importância os locais que se encontram nos limites geográficos, como o extremo norte e o ponto mais ocidental, um interesse materializado na série fotográfica The World's Edge/À Beira do Mundo (1994), conjunto de fotografias apresentado nesta exposição que reproduz locais como o cabo da Roca, ponto mais ocidental da Europa Ocidental, e o cabo de São Vicente, ponto mais a sudoeste da Europa Continental (A Simples Contagem das Ondas. Thomas Joshua Cooper, 1994, p. 9).

Esses são espaços cujas características remetem para o desenho, lembrando elementos que lhe são fulcrais, como a linha e a cor, e contendo neles valores que se ligam à memória e à história mas também à expectativa e antevisão do futuro. Além disso, ao mostrarem locais ligados aos Descobrimentos, as fotografias desta série partem do tema da viagem ao desconhecido, abordando a superação de medos e ansiedades, como refere Peter C. Bunnell, professor de História da Fotografia e Arte Moderna na Universidade de Princeton: «O medo e o medo do desconhecido são a força motriz na perspectiva e na obra de Cooper. A sua arte é trabalhar para vencer esses medos, tanto no sentido físico como emocional.» (Ibid., p. 39)

O silêncio é uma forte presença em toda a obra de Thomas Joshua Cooper, surgindo, como menciona Jorge Molder, como manifestação da realidade, o que, aliado à manipulação da luz, essencial para a sensação de escuridão que os seus trabalhos transmitem, cria uma atmosfera intimista e misteriosa, fulcral para a transcendência procurada pelo fotógrafo. É atrás deste objetivo que as suas fotografias são realizadas a partir de negativos tirados no outono e no inverno, épocas em que, como diz Ian Jeffrey, professor de História da Arte no Goldsmith College, Universidade de Londres, a «paisagem se encontra mais exposta, mais elementar e também mais linear e como que menos absolutamente natural» (Ibid., p. 45).

O leque de referências que se podem sentir na obra de Cooper é extenso e mostra a sua erudição, estabelecendo pontes com a tradição anglo-americana de paisagismo e existindo em linha com a obra de fotógrafos paisagistas como Timothy O'Sullivan e Minor White, além de Raymond Moore, Alfred Stieglitz e Edward Weston. Além destas referências mais claras, é possível encontrar pontos de ligação com a pintura, nomeadamente com o expressionismo abstrato e o trabalho de Jackson Pollock e de Morris Graves, mas também com a land art britânica, presente no registo expressivo que Cooper faz de arbustos e árvores.

Peter C. Bunnell equipara o trabalho do fotógrafo à pintura de Mark Rothko, Barnett Newman, Ad Reinhardt, Agnes Martin e Cy Twombly, pela perceção da obra de arte como modo de atingir um estado de iluminação, não acessível apenas ao artista mas também ao observador que a experiencia, um objeto de «intenso pathos e pureza ingénua» (Ibid., p. 38).

Mas não foi só à história da arte que o fotógrafo foi beber influências: o trabalho de Thomas Joshua Cooper não existe sem o referencial intelectual das obras de Matsuo Basho, Samuel Johnson, Don Juan, Theodore Roethke e William Blake, citadas frequentemente pelo fotógrafo e que, acompanhados por um grande número de mapas e literatura esotérica e espiritual, recheiam a sua casa e estúdio.

A contaminação de modos de expressão artística no seu trabalho foi, aliás, algo que Cooper pretendeu, segundo declarou na entrevista que deu ao jornal A Capital: «Por vezes, as minhas fotografias entram no campo da pintura, outras vezes no campo da escultura, mas, acima de tudo, são trabalhos artísticos que uso com uma determinada estratégia: integrá-los no debate cultural das várias vertentes artísticas.» (Rebelo, A Capital, 22 dez. 1994)

O modo artesanal com que Cooper realiza o seu trabalho é um reflexo da forma como encara a fotografia e a sua tradição, utilizando unicamente uma câmara fotográfica centenária de grande formato e reduzindo deliberadamente quaisquer acrescentos técnicos de efeitos intermédios no resultado final.

Todos estes elementos levaram Jorge Molder a afirmar que a obra de Cooper se impõe como «uma das contribuições mais explicitamente originais e autênticas da fotografia contemporânea», atraindo o espectador para um estado de encantamento e estranheza causado pela representação não expectável e artificial da natureza (A Simples Contagem das Ondas. Thomas Joshua Cooper, 1994, p. 12).

Os títulos das fotografias e das séries são reveladores dos locais onde as fotografias foram tiradas, sendo os subtítulos identificadores do tipo de atividades que Cooper perceciona e experiencia nos locais, cultivando sensações e memórias no espectador: ritual, dança, cerimónia, olhar, premonição, sonho, antevisão, lembrança. Neste sentido, apesar de a paisagem ser retratada com a ausência da figura humana, ela sujeita-se à memória e à imaginação e estimula-as, como o demonstra a série Dreaming the Gokstadt, conjunto de 35 fotografias realizadas entre 1977 e 1987, em que, apesar de o barco que dá nome à série nunca surgir retratado, está presente enquanto sugestão, causada pela impressão de um aglomerado de ramos e rebentos.

A representação da natureza como local sagrado, de onde o ser humano parece excluído, derivará certamente da ascendência índia de Thomas Joshua Cooper, mas também da sua carreira de lenhador, aspetos realçados pelo comunicado de imprensa emitido pelo CAMJAP e reiterados nos media portugueses.

Carolina Gouveia Matias, 2018


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

A Sul de Santiago do Cacém

Thomas Joshua Cooper (1946-)

A Sul de Santiago do Cacém, Inv. 96FE51

A Sul de Santiago do Cacém

Thomas Joshua Cooper (1946-)

A Sul de Santiago do Cacém, Inv. 96FE52

A Sul de Santiago do Cacém

Thomas Joshua Cooper (1946-)

A Sul de Santiago do Cacém, Inv. 96FE50

Cabo Carvoeiro

Thomas Joshua Cooper (1946-)

Cabo Carvoeiro, Inv. 96FE57

Cabo da Roca (6 a.m.)

Thomas Joshua Cooper (1946-)

Cabo da Roca (6 a.m.), Inv. 96FE56

Cabo de São Vicente (6 a.m.)

Thomas Joshua Cooper (1946-)

Cabo de São Vicente (6 a.m.), Inv. 96FE61

Cabo de São Vicente (6 a.m.)

Thomas Joshua Cooper (1946-)

Cabo de São Vicente (6 a.m.), Inv. 96FE63

Cabo de São Vicente (meia-noite)

Thomas Joshua Cooper (1946-)

Cabo de São Vicente (meia-noite), Inv. 96FE62

Cabo Espichel

Thomas Joshua Cooper (1946-)

Cabo Espichel, Inv. 96FE58

Cabo Espichel

Thomas Joshua Cooper (1946-)

Cabo Espichel, Inv. 96FE59

Ponta de Sagres

Thomas Joshua Cooper (1946-)

Ponta de Sagres, Inv. 96FE60

Serra da Peneda, a Sudeste de Melgaço

Thomas Joshua Cooper (1946-)

Serra da Peneda, a Sudeste de Melgaço, Inv. 96FE53

Serra da Peneda, a Sudeste de Melgaço

Thomas Joshua Cooper (1946-)

Serra da Peneda, a Sudeste de Melgaço, Inv. 96FE54

Serra da Peneda, a Sudeste de Melgaço

Thomas Joshua Cooper (1946-)

Serra da Peneda, a Sudeste de Melgaço, Inv. 96FE55

A Sul de Santiago do Cacém

Thomas Joshua Cooper (1946-)

A Sul de Santiago do Cacém, Inv. 96FE51

A Sul de Santiago do Cacém

Thomas Joshua Cooper (1946-)

A Sul de Santiago do Cacém, Inv. 96FE52

A Sul de Santiago do Cacém

Thomas Joshua Cooper (1946-)

A Sul de Santiago do Cacém, Inv. 96FE50

Cabo Carvoeiro

Thomas Joshua Cooper (1946-)

Cabo Carvoeiro, Inv. 96FE57

Cabo da Roca (6 a.m.)

Thomas Joshua Cooper (1946-)

Cabo da Roca (6 a.m.), Inv. 96FE56

Cabo de São Vicente (6 a.m.)

Thomas Joshua Cooper (1946-)

Cabo de São Vicente (6 a.m.), Inv. 96FE61

Cabo de São Vicente (6 a.m.)

Thomas Joshua Cooper (1946-)

Cabo de São Vicente (6 a.m.), Inv. 96FE63

Cabo de São Vicente (meia-noite)

Thomas Joshua Cooper (1946-)

Cabo de São Vicente (meia-noite), Inv. 96FE62

Cabo Espichel

Thomas Joshua Cooper (1946-)

Cabo Espichel, Inv. 96FE58

Cabo Espichel

Thomas Joshua Cooper (1946-)

Cabo Espichel, Inv. 96FE59

Ponta de Sagres

Thomas Joshua Cooper (1946-)

Ponta de Sagres, Inv. 96FE60

Serra da Peneda, a Sudeste de Melgaço

Thomas Joshua Cooper (1946-)

Serra da Peneda, a Sudeste de Melgaço, Inv. 96FE53

Serra da Peneda, a Sudeste de Melgaço

Thomas Joshua Cooper (1946-)

Serra da Peneda, a Sudeste de Melgaço, Inv. 96FE54

Serra da Peneda, a Sudeste de Melgaço

Thomas Joshua Cooper (1946-)

Serra da Peneda, a Sudeste de Melgaço, Inv. 96FE55


Publicações


Fotografias

Jorge Molder (ao centro)

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Serviço Internacional), Lisboa / INT 04704

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência externa relativa ao pedido de apoio de Thomas Joshua Cooper à Fundação Calouste Gulbenkian para a série fotográfica sobre os cabos situados em território português 1992 – 1994

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00340

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência, lista de obras, material para o catálogo, planta da exposição. 1993 – 1997

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/044-D02924

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAMJAP, Lisboa) 1994


Exposições Relacionadas

Definição de Cookies

Definição de Cookies

Este website usa cookies para melhorar a sua experiência de navegação, a segurança e o desempenho do website. Podendo também utilizar cookies para partilha de informação em redes sociais e para apresentar mensagens e anúncios publicitários, à medida dos seus interesses, tanto na nossa página como noutras.