Exposição itinerante da obra do fotógrafo de origem arménia Yousuf Karsh (1908-2002). Organizada pelo International Center of Photography (Nova Iorque) com o apoio da Merrill Lynch Europe, por ocasião dos cinquenta anos de carreira de Karsh, esta mostra homenageava o percurso deste fotógrafo de retratos, radicado no Canadá desde 1924. Antes de ser apresentada em Lisboa a exposição percorrera, entre 1988 e 1989, diversas cidades europeias (Londres, Paris, Genebra, Zurique, Frankfurt, Budapeste e Copenhaga).

Ao longo da Galeria de Exposições Temporárias da Sede da Fundação Calouste Gulbenkian (piso 01), foi exposta mais de uma centena de retratos de personalidades, que, ao longo do século XX, se destacaram nas mais diversas áreas, desde a política às artes, e que foram eternizadas pela lente de Karsh. Numa das suas declarações, o fotógrafo explica o seu conceito de retrato: «The mask we present to others and, too often, to ourselves, may lift for only a second – to reveal that [inward] power, in an unconscious gesture, a raised brow, a surprised response, a moment of repose. This is the moment to record.» (Karsh: A Fifty-Year Retrospective, 1983, p. 23)

O percurso iniciava-se com uma breve apresentação do fotógrafo. Para tal foi exposto um autorretrato de Karsh e algumas das suas primeiras fotografias após a chegada ao Canadá: Early Landscape (1927), Charlotte Rae (1929) e John H. Garo (1936), o seu mentor. Seguiam-se retratos de escritores (Marguerite Yourcenar, Ernest Hemingway, Albert Camus, entre outros), atores e atrizes (como Alain Delon, Brigitte Bardot, Audrey Hepburn), líderes mundiais (Winston Churchill, Margaret Thatcher, Fidel Castro, o papa João Paulo II, a rainha Elizabeth II) e artistas (Andy Warhol, Henry Moore, Max Ernst, Pablo Picasso). À seleção inicial, Yousuf Karsh acrescentou, para a mostra em Portugal, um dos seus retratos da artista Maria Helena Vieira da Silva, captado em 1975.

A emblemática fotografia de Winston Churchill, captada em 1941 aquando da sua visita ao Canadá, que foi capa da revista Life, concedendo a Karsh reconhecimento internacional, encontrava-se na exposição sem todavia merecer especial destaque. Os retratos foram expostos de modo a evitar qualquer tipo de hierarquização, não tendo sido constituídos núcleos segundo a área de atuação dos retratados. Esta opção anulava o risco de a exposição adquirir um caráter predominantemente pedagógico, como chegou a ser insinuado, em tom crítico, por João Lopes no jornal Expresso (Lopes, Expresso, 28 out. 1989).

Maioritariamente a preto-e-branco, salvo poucas exceções, como as da família real britânica, também houve espaço para retratos «sem rosto», como no caso do de Pablo Casals, fotografado de costas enquanto tocava violoncelo, ou da fotografia das mãos de Muhammad Ali, de 1970. O modo como esta exposição foi montada, segundo rigorosas indicações do International Center of Photography, fazia dela uma mostra sobre a obra de Karsh, mas também sobre os desenvolvimentos da arte do retrato no século XX.

Mariana Roquette Teixeira, 2018