Pamela Golden. Nothing Personal / Nada de Pessoal

Exposição antológica da obra da artista norte-americana, residente em Londres, Pamela Golden (1959). Comissariada por Ian Hunt, esta mostra reúne uma seleção de trabalhos produzidos entre 1990 e 2003, que mostram o modo como a artista foi fazendo uso da pintura, da escala e da imagem fotográfica.
Retrospective exhibition on London-based American artist Pamela Golden (1959). Curated by Ian Hunt, the show featured works produced between 1990 and 2003 that reveal the artist’s use of painting, scale, and photography.

Exposição antológica da obra de Pamela Golden (1959), artista norte-americana residente em Londres.

Comissariada por Ian Hunt, esta mostra reúne uma seleção de trabalhos produzidos entre 1990 e 2003, entre os quais duas pinturas pertencentes à coleção do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) – Do They Really Come From Cats? (2001) e Nevertheless, A Library (2001) –, incorporadas em 2002. É na sequência destas aquisições que Jorge Molder, então diretor do CAMJAP, lança a Golden o desafio de realizar uma exposição que apresente diferentes momentos do seu percurso.

A proposta apresentada incide na última década de trabalho, ao longo da qual a artista segue uma via muito particular: a pintura a óleo numa escala muito reduzida. Esta prática, iniciada no final dos anos 80, alcança solidez nas pinturas a preto-e-branco, como God and Mortal in Siamese Dance, The Arabs Invented the Coffee Break, datadas de 1990, os trabalhos mais antigos aqui apresentados e que abrem a mostra.

Esta exposição é composta por trabalhos que, em termos de formato, se situam em extremos opostos. Às pinturas de pequeníssima escala juntam-se três fotografias de pinturas em grande escala, o que remete para o modo como Golden foi fazendo uso da escala e da imagem fotográfica.

A artista começou por usar a pintura em escala reduzida como instrumento de trabalho, suporte para composições de grande formato. Com o tempo, esta foi adquirindo um outro estatuto, sendo eleita pela artista para prosseguir o seu trabalho. Golden recusa outras técnicas e tintas que mais se adequariam ao trabalho minucioso de pintura numa escala tão reduzida, optando por continuar a pintar a óleo e encáustica, o que lhe trará inúmeros desafios.

As cenas e personagens destas suas pinturas surgem representadas com pouca definição, como fragmentos da memória, cabendo ao observador «completar» mentalmente certos detalhes. Estas composições baseiam-se em registos fotográficos de instantes passados, mas não presenciados pela artista. Trata-se de imagens provenientes de enciclopédias, literatura de viagens, bibliotecas e arquivos, encontradas pela artista durante as suas investigações. O questionamento da imagem fotográfica está aqui subjacente. Através destes trabalhos, Golden propõe uma reflexão sobre o que apreendemos e registamos quando olhamos para uma imagem. Se ao distanciamento já existente em relação ao momento captado juntarmos a redução e transformação da imagem tal como empreendido por Golden, os obstáculos ao entendimento são ainda maiores. Em 1996, a artista decide ampliar fotograficamente alguns dos seus trabalhos. Angel Heart, Gator e Fugitive, aqui expostos, são exemplo desse processo, e de uma série de questões que ele suscita. O que revelam estas ampliações relativamente aos trabalhos de pequena escala?

Organizada cronologicamente, esta exposição apresenta as pequenas pinturas de forma alinhada e enquadradas numa espécie de molduras em forma de passe-partouts de iguais dimensões, o que à primeira vista as uniformiza. Os ritmos que marcam o percurso respeitam as diferentes séries e trabalhos isolados.

Ao entrar na sala, o visitante depara então com uma sequência de superfícies quadrangulares com uma abertura ao centro, que revela algo somente percetível se se deslocar ao seu encontro e aí se detiver algum tempo. A necessidade desse trabalho de observação minuciosa é reforçada pela iluminação dirigida.

O corpo de trabalho apresentado é marcado por uma enorme diversidade temática, que vai lançando diferentes desafios pictóricos à artista. O primeiro grupo de pinturas, realizadas entre 1990 e 1994, é dedicado ao colonialismo, ao modo de representação de culturas ditas não ocidentais e às relações entre diferentes povos. São pinturas a preto-e-branco, cujos títulos propõem outras leituras possíveis, revelando algum sentido de humor por parte da artista, como na obra The Arabs Invented the Coffee Break (1990).

Segue-se um conjunto de trabalhos sobre a guerra e os seus bastidores, com obras como Three Men, Three Women (1995), Soldier with Rabits (1995) e a série Mrs. Watson Pours the Coffee (1995), que parte de fotografias do arqueólogo Thomas Ashby captadas entre 1915 e 1917, enquanto este trabalhava como voluntário da Cruz Vermelha Britânica no norte de Itália. Estes registos chamam a atenção da artista, segundo o texto do curador, por mostrarem o papel desempenhado pelas mulheres durante a guerra, como tinha sido o caso de Mrs. Watson, que aparece em várias fotografias mas não é referida nos apontamentos do arqueólogo. Segundo a artista: «Os homens pareciam ser forçados a fazê-lo [trabalho voluntário]. As mulheres pareciam sentir-se libertadas.» (Pamela Golden. Nothing Personal / Nada Pessoal, 2004, p. 16)

Em torno da temática do mar e da praia são reunidos trabalhos de diferentes períodos, que remetem para vivências tão díspares como as brincadeiras de infância na praia, o lazer e convívio nos cruzeiros e viagens de recreio, a dureza das viagens transatlânticas e as missões militares.

Por último, são apresentados alguns trabalhos mais recentes, que manifestam uma tendência para um ligeiro aumento de escala, possuindo uma superfície pictórica próxima do formato das polaroids. À semelhança do conjunto anterior, as imagens parecem reportar-se a acontecimentos e momentos de épocas muito distintas, e de difícil identificação. A grande maioria refere-se a retratos de grupo, alguns pela perspetiva e enquadramento parecem ter sido captados sem o seu conhecimento (imagens roubadas), outros parecem encenados, representando comportamentos e estilos de vida. Deste grupo faz parte a obra It Involves a Pedigree (2001), incorporada na coleção do CAMJAP após a exposição.

Para acompanhar esta mostra foi produzida uma pequena publicação, projetada por Ian Hunt, da qual se destacam o texto do curador, bem como a reprodução de alguns trabalhos expostos, em particular os mais antigos.

As características da pintura de Golden e os efeitos inesperados de tal redução de escala chamam a atenção da imprensa. No seu artigo para o jornal Expresso, Nuno Crespo fala de «trabalhos com um poder expressivo e pictórico incontornável» (Crespo, Expresso, 27 nov. 2004, p. 18), e Paula Lobo, através de uma conversa com a artista, procura compreender melhor o processo de trabalho por detrás de tais obras (Lobo, Diário de Notícias, 15 out. 2004, p. 39). Também Ana Ruivo dedica um artigo a esta exposição, que classifica como «possível retrato de uma contemporaneidade» (Ruivo, Expresso, 6 nov. 2004, p. 49), e João Lopes constata, através das pequeníssimas pinturas de Golden, que «nas fronteiras mais remotas em que o espaço ainda é espaço, o humano não se dissipa, não se anula, não abandona a cena. Bem pelo contrário: o mundo amplia a sua intensidade, as emoções, o seu mistério» (Lopes, Diário de Notícias, 30 out. 2004, p. 45).

Mariana Roquette Teixeira, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Do They Really Come From Cats?

Pamela Golden (1959-)

Do They Really Come From Cats?, 2001 / Inv. 02PE280

It Involves a Pedigree

Pamela Golden (1959-)

It Involves a Pedigree, 2001 / Inv. 04PE283

Nevertheless, A Library

Pamela Golden (1959-)

Nevertheless, A Library, 2001 / Inv. 02PE281

It Involves a Pedigree

Pamela Golden (1959-)

It Involves a Pedigree, 2001 / Inv. 04PE283


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Helena de Freitas (à esq) e Maria Filomena Molder (ao centro)
Emílio Rui Vilar (à esq.)
Jorge Molder (à esq.)
Manuel Costa Cabral (à esq.)
Delfim Sardo e João Pinharanda (à esq.)

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00524

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém proposta de exposição, correspondência, informações, guias de transporte, lista das obras para efeitos de seguro, apólices de seguro, orçamentos para o catálogo, pedidos de empréstimo, material para o catálogo, convite, recortes de imprensa. 2004 – 2005

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 01020

Pasta com o processo de aquisição da obra «It Involves a Pedigree» (2001; Inv. 04PE283) de Palmela Golden. 2004 – 2004

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 114508

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2004

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 121263

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2004


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