Symétries Sublimes. Photographies de David Stephenson

Paris-Photo 2006

No ano de 2006, por iniciativa do Centre Culturel Calouste Gulbenkian, em Paris, foi realizada a exposição de fotografias do artista americano David Stephenson (1955). Jorge Calado assegurou a curadoria da exposição, para a qual foram selecionadas 50 fotografias.
In 2006, the Centre Culturel Calouste Gulbenkian in Paris arranged an exhibition of photographs by American artist David Stephenson (1955). Jorge Calado curated the show, which featured a selection of 50 photographs.

No ano 2006, por iniciativa do Centre Culturel Calouste Gulbenkian (CCCG), em Paris, foi realizada a exposição de fotografia de David Stephenson (1955). A exposição esteve integrada no Paris-Photo, um evento anual de fotografia que decorre, desde 1997, nos meses de outubro e novembro, no Grand Palais. A coordenação-geral da exposição foi assegurada por João Pedro Garcia, que convidou Jorge Calado para a curadoria do projeto. A edição de 2006 do Paris-Photo, dedicada ao tema «Plaisir Sublime», foi comissariada pela fotógrafa Valérie Fougeirol.

A exposição correspondeu ao propósito da Fundação Calouste Gulbenkian de divulgar artistas menos conhecidos em França. Nas palavras de João Pedro Garcia, então diretor do CCCG: «Cette exposition s'insère parfaitement dans la programmation du Centre qui tient notamment à présenter à Paris des artistes encore méconnus en France. En effet, il s'agit de la première exposition de David Stephenson dans ce pays.» (Symétries Sublimes. Photographies de David Stephenson, 2006)

David Stephenson é um artista americano residente na Austrália. Com um trabalho dedicado à fotografia e ao vídeo, o seu interesse pela imensidão do espaço, do tempo e da luz, aliado ao conceito de sublime, levam-no a viajar e a fotografar extensivamente por todo o mundo, no decurso de viagens que vão do Ártico ao Antártico, passando pela Europa. Conforme sublinhou Jorge Calado no texto que assina para o catálogo da exposição: «Les étoiles, les dômes et les voûtes, le ciel et les nuages de l'Arctique, les champs glacés de l'Antarctique, les paysages altérés par la technique, les squelettes d'arbres et leurs appendices, le battement cosmologique du temps et les émotions que tout cela évoque – c'est la matière moulée par l'art sublime de David Stephenson. Qui, comme on veut le démontrer, présente une extraordinaire unité.» (Ibid., pp. 13-14)

Esta primeira retrospetiva europeia da obra de David Stephenson foi dedicada ao tema «Symétries Sublimes» e incluiu maioritariamente fotografias da série Cúpulas, realizada em quinze países europeus, entre os quais Portugal. João Pedro Garcia sublinha exatamente a diversidade geográfica no trabalho do artista, alinhada com os interesses interculturais do CCCG: «Je voudrais, pour ma part, souligner la diversité des lieux, de l'Arctique en passant par l'Europe (le Portugal, la France et quatorze autres pays du continente). La diversité, les correspondances, les échanges sont eux aussi l'un des axes majeurs de l'activité du Centre.» (Ibid., s.p.)

Foram apresentadas cerca de 50 fotografias a preto-e-branco e a cores, correspondentes às séries: Dômes, Composites, Marquer le temps, Vaste, Monuments nouveaux, Squelettes, Étoiles e La Banquise. Estas séries fotográficas foram realizadas entre 1981 e 2005. Todas as fotografias que figuraram na exposição pertenciam à coleção do artista.

No catálogo da exposição, Jorge Calado dedica um extenso texto à obra de David Stephenson, relacionando-a com o tema da mostra e com vários períodos da história da humanidade e do cristianismo. De acordo com João Pedro Garcia: «Dans les pages qui suivent, Jorge Calado […] évoque de façon brillante et exhaustive la cohérence de l'œuvre dans la trajectoire de l'artiste et interprète les rapports de celle-ci avec le thème de l'exposition.» (Ibid., s.p.)

No seu texto, Jorge Calado recupera o famoso ensaio crítico «A Philosophical Enquiry into the Origin of Our Ideas of the Sublime and Beautiful», de Edmund Burke (1729-1797), sobre a origem dos conceitos estéticos de sublime e de belo – «le premier associé à la tension et le second à la relaxation». Mas a caracterização do sublime envolve outros fatores, que o autor recupera igualmente de Edmund Burke, como «la puissance et l’énergie, l’immensité, l’infini, la succession et l’uniformité (symétrie), la dimension et la grandeur (échelle), la difficulté, la brusquerie soudaine» (Symétries Sublimes. Photographies de David Stephenson, 2006, p. 14). De acordo com o curador, todos estes aspetos estão presentes na obra de David Stephenson.

A propósito do conceito de simetria, Jorge Calado evoca o quadrado (de registo «mundano») e o círculo («sagrado») como as duas formas perfeitas, «eminentemente simétricas», para chegar à quadratura do círculo – «ce problème géométrique insoluble n’était qu’une vaine tentative de l’homme dans son désir d’approcher Dieu» (Ibid., p. 17). O autor sublinha o facto de o desenho e a estrutura de muitas cúpulas de edifícios serem construídas com base num círculo inscrito num quadrado.

Refletindo sobre o trabalho de David Stephenson e sobre o conjunto de fotografias apresentadas na exposição, em que surgem paisagens terrestres ou celestes a par de imagens de diversas cúpulas de edifícios religiosos, o curador considera que «plus qu’à des murs, l’homme aspire à un toit – simultanément abri et intermédiaire de divin. Le dôme était la plus naturelle des couvertures; vu de l’extérieur, on dirait une tête; vu de l’intérieur, il reproduisait la voûte céleste» (Ibid., p. 18). A cúpula do Panteão de Roma foi a primeira a ser fotografada por David Stephenson, «l’immensité et la complexité du projet témoignent de sa qualité sublime.» (Ibid.)

Sobre as séries de estrelas e mapas celestes desenvolvidos por David Stephenson, o curador menciona: «Une fois encore, le temps et l’espace cosmologiques apparaissent imbriqués dans des images très épurées et d’une grande élégance. La notion que les photons de lumière qui dessinent ces images parcourent des milliards de milliards de kilomètres dans l’espace interstellaire est encore un autre facteur du sublime.» (Ibid., p. 24)

Outro tema explorado nas fotografias de Stephenson são os «territórios-limite». Neste caso, a Austrália e a Antártida, «les espaces les plus purs et les plus propres sont aussi les moins habités – le désert et la banquise». Na sequência deste pressuposto, Jorge Calado refere: «Toute association entre le désert australien et l’Antarctique peut sembler étrange, mais tous deux sont des territoires limite, éminemment secs, qui ont inspiré à David Stephenson des images très fortes. […] Dans le désert, Stephenson a regardé le ciel; en Antarctique, la glace.» (Ibid., p. 25)

Entre o final dos anos 80 e o princípio dos anos 90, o trabalho de David Stephenson torna-se mais contemplativo, espiritual e abstrato. Interessado na vastidão do espaço e na contemplação do horizonte, as fotografias desta fase evocam Turner (1775-1851), «un autre praticien du sublime préoccupé par les effets fugaces de la lumière et par la fluidité des nuages et des eaux» (Ibid., p. 26).

As fotografias da Antártica resultam numa série composições «abstraites, conformes à la désorientation du paysage» (Ibid., p. 26). As séries são fotografadas a preto-e-branco, mas são impressas a cores, o que permite obter tonalidades azuladas, com um efeito irreal.

Referindo-se ao artista como «rigoureux, imaginatif et varié», Jorge Calado atribui-lhe a capacidade de reinventar o sublime através da fotografia: Stephenson «a dépassé les limitations de la photographie en tant qu’art de l’espace dans un temps figé». Considerando a fotografia de David Stephenson «intrinsèquement dynamique (la statique n’est qu’apparence). Le temps est toujours présent, même dans les images les plus simples et les plus subtiles», conclui que «en pointant sa caméra vers le firmament, Stephenson récupère des temps révolus qui remontent à l’origine de l’univers» (Ibid., pp. 27-28).

Editado em francês e inglês pelo Centre Culturel Calouste Gulbenkian, o catálogo da mostra contém o texto introdutório do diretor, o texto do curador e a reprodução das fotografias que figuraram na exposição.

Joana Brito, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

João Caraça e David Stephenson (à dir.)
David Stephenson (à esq.) e Emílio Rui Vilar (à dir.)
David Stephenson (à esq.) e Emílio Rui Vilar (ao centro)
Emílio Rui Vilar e David Stephenson (ao centro)
David Stephenson (ao centro)
David Stephenson e Emílio Rui Vilar (ao centro)
David Stephenson e Emílio Rui Vilar (à esq.)
David Stephenson (à esq.)
João Caraça
David Stephenson

Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05366

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna variada; convite; traduções dos textos para o catálogo; catálogo e recortes de imprensa. 2006 – 2006

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / CDVD 1209

Coleção fotográfica, cor: inauguração (CCCG, Paris) 2006

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / CDVD 1210

Coleção fotográfica, cor: inauguração (CCCG, Paris) 2006


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