Didier Fiúza Faustino. Não Confiem nos Arquitectos

Exposição individual do arquiteto/artista luso-francês Didier Fiúza Faustino (1968), com curadoria de Isabel Carlos. O artista criou instalações propositadamente pensadas para a exposição organizada no Centro de Arte Moderna, às quais se juntaram outros trabalhos recentes.
Solo exhibition on Portuguese-French architect and artist Didier Fiúza Faustino (1968). The artist created installations specifically for the exhibition organised by the Modern Art Centre in Lisbon, which included other recent works.

Exposição individual do arquiteto/artista luso-francês Didier Fiúza Faustino (1968), apresentada em três espaços do Centro de Arte Moderna (CAM), o Hall, a Sala de Exposições Temporárias e a Sala Polivalente.

O trabalho desenvolvido por Fiúza Faustino cruza a arquitetura com as artes visuais. Em 2007, o arquiteto/artista participara na exposição coletiva «Ida e Volta. Ficção e Realidade», na qual apresentou a videoinstalação Théâtre des Opérations (2007), que atualmente integra a coleção do CAM, e concebeu uma solução arquitetónica para a apresentação, na Nave do CAM, dos vários trabalhos em vídeo que compunham a mostra.

Para esta exposição individual, Didier Faustino concebeu várias estruturas que, conjugadas com som e imagem, ocupavam e transformavam o espaço e o modo como este podia ser experienciado. Importa salientar a natureza das salas ocupadas: «um pequeno teatro» e uma «sala não simétrica, torta e comprida», que compõem «uma das zonas mais difíceis e imperfeitas» do museu, usando as palavras de Isabel Carlos, curadora da exposição (Didier Fiúza Faustino. Não Confiem nos Arquitectos, 2011, p. 10).

Na realidade, a exposição iniciava-se no hall de acesso às salas. A amplitude desse espaço é quebrada por duas colunas, mas estas, em vez de serem encaradas pelo artista como obstáculos, foram integradas na instalação Future Will Be a Remake (2011): no chão, foi desenhada uma espécie de jogo da macaca que contornava as colunas, transformando-as em elementos lúdicos, evocando a atividade das crianças quando giram até ficarem tontas. Fiúza Faustino desafiava os visitantes a fazerem uso do espaço de diferentes formas, libertando-se das convenções.

O acesso à exposição podia ser feito pela entrada na Sala de Exposições Temporárias ou pela entrada para a Sala Polivalente. A marcar as passagens, encontrava-se a instalação sonora Trust Me (2011), concebida para a exposição. Dois pares de altifalantes transmitiam a mesma mensagem ou aviso em tempos distintos e em três línguas: «Don't trust architects», «Não confiem nos arquitetos», «Méfiez-vous des architectes». Em vez de servir de orientação, esta mensagem sonora provocava confusão e desconforto no visitante.

A Sala de Exposições Temporárias era ocupada pela instalação Instrument for Blank Architecture e pelo vídeo Exploring Dead Builings. Ambas as peças faziam uso de equipamentos técnicos. A primeira incorporava um tripé de topografia, ao qual era afixado um cabo comprido cujas extremidades terminavam, de um lado, num peso e, do outro lado, numa espécie de máscara, sem aberturas, onde o visitante deveria encaixar o rosto. Esta máscara emitia paisagens sonoras compostas por Russell Haswell (1970). Com os sentidos limitados ao estímulo auditivo, o visitante experienciava uma amplificação das dimensões física e mental e uma intensa imersão em si próprio. A segunda peça, um vídeo realizado no edifício abandonado do antigo Ministério das Autoestradas da República Soviética na Geórgia, apresentava imagens captadas por uma câmara montada num módulo com rodas que percorriam o edifício. As imagens das ruínas eram perturbadoras, levando o espectador a questionar-se, por um lado, sobre o que as paredes escondiam e, por outro, sobre o tempo de «vida» de um edifício.

Na Sala Polivalente, contígua à anterior, uma pequena sala de espetáculos com palco e plateia, encontrava-se Flatland (2011), uma instalação que joga com as figuras do espectador e do ator. Ao entrar, o visitante deparava com uma espécie de ecrã ou tela através da qual vê um baloiço. Esta não era uma imagem fílmica ou fotográfica, mas sim o objeto em tempo real. No palco estava instalado um palanque alto, de pequenas dimensões, cujas escadas davam acesso ao baloiço suspenso a partir do teto. Se optasse por subir e experimentar o baloiço, o espectador transformava-se em ator e passava a ter a perspetiva da plateia a partir do palco. Esta instalação impele o visitante a não aceitar passivamente o ponto de vista que lhe é imposto, encorajando-o a questioná-lo, a desafiar as fronteiras impostas e a libertar-se delas. Como refere Paula Melâneo no seu artigo para a revista arqa – Arquitectura e Arte Contemporâneas, «a própria produção de Didier Faustino é crítica, inconformada e provocadora» (Melâneo, arqa – Arquitectura e Arte Contemporâneas, 2011).

Para acompanhar esta exposição foi produzido um catálogo e um caderno. O primeiro, à semelhança do convite, foi concebido por Didier Fiúza Faustino, em colaboração com o designer Pierre-François Letué. Destacam-se na monografia os textos da curadora e de Beatriz Preciado.

Das obras concebidas para a mostra – Future Will Be a Remake (2011), Flatland (2011), Trust Me (2011) –, as duas primeiras foram incorporadas na coleção do CAM, tendo sido a primeira adquirida pela FCG e a segunda doada pelo artista.

Mariana Roquette Teixeira, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Flatland

Didier Fiuza Faustino (1968-)

Flatland, 2011 / Inv. 11E1634

Future will be a remake

Didier Fiuza Faustino (1968-)

Future will be a remake, 2011 / Inv. 11E1639


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

Encontros ao Fim da Tarde

jan 2011 – abr 2011
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Domingos com Arte

16 jan 2011 – 3 abr 2011
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Sala Polivalente
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Uma Obra de Arte à Hora do Almoço

abr 2011
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Emílio Rui Vilar, Didier Fiuza Faustino
Teresa Patrício Gouveia (à esq.) e Isabel Carlos (à dir.)
Teresa Patrício Gouveia, Didier Fiuza Faustino, Emílio Rui Vilar, João Mota Amaral e Isabel Carlos (frente, da esq. para a dir.)
Teresa Patrício Gouveia, Didier Fiuza Faustino, Emílio Rui Vilar e João Mota Amaral
Teresa Patrício Gouveia, Didier Fiuza Faustino, Emílio Rui Vilar (da esq. para a dir.) e João Mota Amaral (atrás)
Isabel Carlos

Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00652

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência, formulários de empréstimo, orçamentos para construção de estruturas e montagem, orçamentos para o catálogo, propostas de grafismo para o convite, proposta para a montagem, material para o catálogo e formulário de pedido de apoio à Culturesfrance. 2010 – 2011

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 7595

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAM, Lisboa). 2011

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 7594

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAM, Lisboa) 2011


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