Exposição temática dedicada à caricatura e à ilustração na arte moderna portuguesa. Apresentada na área de exposições rotativas do piso 01 do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP), esta mostra deu a ver uma seleção de trabalhos sobre papel pertencentes à Coleção Moderna do Museu. As paredes deste espaço foram pintadas de verde, de forma a diferenciá-lo da exposição da coleção, como célula autónoma ou interrupção no percurso expositivo, aspeto reforçado pelo título – «Humor e Ilustração» – que marca a entrada.

Este núcleo foi composto por obras de desenho humorístico e caricaturas produzidas entre 1904 e 1938, em diferentes contextos, e incorporadas na coleção do CAMJAP em momentos distintos.

Através dos registos fotográficos é possível identificar dois critérios expositivos, a autoria e a natureza do desenho. Através desta opção é apresentada uma variedade de tendências e dadas a conhecer diferentes linguagens.

A exposição começa com desenhos humorísticos e caricaturas de um grupo de artistas que entre o final do século XIX e o início do século XX se estabelece em Paris, do qual fazem parte, Emmerico Nunes (1888-1968), Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918), Domingos Rebelo (1891-1975) e Leal da Câmara (1876-1948). Executados em Paris, os desenhos expostos são influenciados pela produção francesa publicada em periódicos e retratam com ironia e sarcasmo personagens e cenas da vida mundana parisiense, como os entediantes serões musicais da burguesia, os encontros sociais que escondem relações amorosas e traições (Um homem casado, de Almada Negreiros, e S/título [Mr. le baron qui présente sa femme à son amant!...]), bem como as diversões da classe baixa. A este propósito é incluído um desenho de Emmerico Nunes que faz troça das dificuldades atravessadas por Francis Smith ao tentar pintar cenas do quotidiano numa praça em Paris.

Segue-se o grupo dos Humoristas, participantes nos Salões dos Humoristas Portugueses (1912-1913): Almada Negreiros (1893-1970), Stuart Carvalhais (1887-1961), Cristiano Cruz (1892-1951), Jorge Barradas (1894-1971) e António Soares (1894-1978). Da sua produção destacam-se a crítica social e de costumes e as contribuições para periódicos portugueses, entre os quais o Ecos da Semana, o Sempre Fixe: Semanário Humorístico, a ABC – Revista Portuguesa, o ABC a Rir e a Ilustração Portugueza.

Numa vitrina é exposto o primeiro número do jornal manuscrito Parva (em latim) (1918-1920), produzido por Almada como porta-voz das ideias do «Club das Cinco Cores». Este consistia, nas palavras do artista, num «órgão representativo das ideias da nossa agremiação […] Entre as várias secções do jornal haverá um ou vinte folhetins, anúncios luminosos d'espírito e de piada, coisas para a gente se perder de riso, coisas para fingir que é para chorar, […] poesia maluquíssima […] secção da estupidez livre, secção de máximas filosóficas inventadas por nós» (Ferreira, RHA. Série W, 2014, p. 7).

Seguem-se desenhos a tinta-da-china de Stuart Carvalhais, nos quais o artista representa o quotidiano lisboeta, seus lugares (cafés) e personagens (prostitutas, bêbedos). Estes desenhos de traço rápido revelam um apurado olhar sobre realidades decadentes, sendo alguns deles acompanhados por legendas. Esse também é o caso de um desenho humorístico de Cristiano Cruz, aqui incluído, que representa um pastor, com vestes de sacerdote, que passeia um rebanho de ovelhas e no qual o artista escreve: «Sobre a lei da separação / Pobre pastor, como está reduzido o número das tuas ovelhas!...» – fazendo referência à lei do divórcio promulgada em 1910, a qual punha termo aos efeitos civis do casamento religioso católico.

Das contribuições para periódicos portugueses, destacam-se as ilustrações de Almada Negreiros para o Sempre Fixe: Semanário Humorístico e para o ABC a Rir – Semanário Humorístico e de Actualidades; de Jorge Barradas e António Soares para a ABC – Revista Portuguesa; e as de Carlos Botelho para o Ecos da Semana.

Um último conjunto de desenhos, de Carlos Botelho (1899-1982) e Bernardo Marques (1898-1962), ilustra a vida social na cidade de Lisboa, os cafés, os bares noturnos, os espetáculos, os jardins e as ruas movimentadas.

À semelhança das outras exposições rotativas, também esta não possui uma publicação associada.

Mariana Roquette Teixeira, 2019