Exposição de gravura e escultura do artista português José Pedro Croft (1957), realizada em Lisboa por iniciativa do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP. Teve a curadoria de Jorge Molder, então diretor do CAMJAP.

José Pedro Croft estudou pintura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, entre 1976 e 1981, e escultura, em 1978/79. O início do seu percurso artístico foi marcado pela colaboração no ateliê do escultor João Cutileiro, que o levaria a dedicar-se, ao longo de vários anos, à prática da escultura. Expõe regularmente desde 1981. A partir de 1991, além de escultura, José Pedro Croft desenvolve as disciplinas do desenho e da gravura. As três disciplinas são trabalhadas com igual importância e sem hierarquias, como sublinha o crítico e curador de arte João Silvério: «Técnicas diferentes, pelas quais a sua obra vai transitando sem hierarquias. Cria obras de grandes dimensões em que a escala do corpo e as relações arquitetónicas estão sempre presentes.» (Silvério, «José Pedro Croft», 2013)

A presente exposição no CAMJAP reuniu um conjunto de gravuras que o artista realizara em Barcelona, nas oficinas de Tristan Barbarà – casa inaugurada em 1982 (Tristan Barbarà Edicions) e que, desde então, apoia o trabalho de escritores e artistas, utilizando métodos tradicionais de impressão. Integraram também a exposição duas esculturas em gesso e madeira. Todos os trabalhos apresentados haviam sido realizados entre 1991 e 1993.

No âmbito da exposição, uma série de quatro gravuras e uma escultura do artista foram incorporadas na coleção do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian.

O projeto expositivo foi conduzido por Jorge Molder, em conjunto com José Pedro Croft, tendo a montagem da exposição ficado a cargo da equipa de montagens do CAMJAP. Jorge Molder e a historiadora de arte Teresa Blanch assinaram os textos do catálogo, dedicados ao artista e às peças apresentadas.

Como vários autores apontam, as obras de Croft correspondem à pesquisa de formas na sua essencialidade e transitoriedade. De acordo com Teresa Blanch, «Pedro Croft liberta-se de pesos, de amarras, para se ligar ao mundo da consciência serena e lúcida do retorno às coisas» (José Pedro Croft, 1994, p. 5).

Partilhando o mesmo ponto de vista, Molder caracteriza as obras de Croft como objetos de «equilíbrio». Isto é, o curador entende o trabalho do artista inserido na ideia de um «movimento redentor […] apenas suscetível de encontrar o seu pleno sentido numa realidade intermédia». A realidade intermédia a que Molder se refere posicionar-se-ia entre as formas mais abstratas e as formas essenciais. Nas palavras do autor: «É aí que os trabalhos de José Pedro Croft introduzem pequenas correcções, ou melhor, pequenos ajustamentos, ora agindo contra o excesso de ordem ora contra a desorganização excessiva, como se pretendessem estabelecer, a cada momento, uma forma de equilíbrio (ou desequilíbrio) mais apetecível.» (José Pedro Croft, 1994, p. 4)

Neste sentido, Molder considera que os trabalhos do artista são «uma espécie de mundo à parte», capazes de manter com o mundo real (dos objetos e formas do nosso dia-a-dia) uma constante troca de impressões, que a ambos os mundos reforça o sentido (Ibid.).

Lígia Afonso escreveu acerca de uma das esculturas apresentadas, hoje pertencente à coleção do Centro de Arte Moderna. A autora exprime a sua perspetiva sobre a escultura em destaque, composta por uma mesa em madeira e uma enorme bola de gesso: «Nesta esfera branca de gesso sobre mesa de madeira inclinada, Croft preconiza, em conformidade geracional, uma crítica à ideia de monumento, categoria fundamental da tradição escultórica ocidental.» (Afonso, «José Pedro Croft», 2010)

Os eventos paralelos associados à exposição visaram a organização de várias visitas guiadas.

O catálogo da exposição, de edição bilingue, foi editado pelo CAMJAP, e inclui a introdução de Jorge Molder, o texto assinado por Teresa Blanch, a reprodução das obras apresentadas e a biografia do artista.

O acolhimento por parte da crítica especializada foi positivo. A título exemplificativo, destacamos as impressões de Cristina Azevedo Tavares, professora e crítica de arte, que caracterizou as gravuras apresentadas no CAMJAP como «gravuras que basicamente são desenhos de objectos, possíveis de em si mesmos constituírem esculturas, ou de se assumirem como lugares do mundo». Em relação às esculturas, a autora considerou-as «estruturas distintas», uma vez que «jogam com duas matérias diferentes»: «um suporte que o não é (a madeira) ou a grande esfera de gesso, ou a espécie de cilindro de geometria inventada que neste caso falsamente suporta a madeira». Concluindo, Cristina Tavares considera que o artista «joga nas impossibilidades e limiares do equilíbrio e da instabilidade, e em simultâneo com o falso peso dos objectos, explorando a ambiguidade formal» (Tavares, Colóquio/Artes, 1994, p. 67).

Joana Brito, 2019