Na adolescência não chega, estereótipos de género têm de ser desconstruídos mais cedo
Travar os estereótipos de género desde a infância é o objetivo do projeto Crescer + IGUAL – Primeiros Anos. Inicialmente a iniciativa incidia em turmas do sétimo ano, mas Ana Paixão, da associação Questão de Igualdade rapidamente percebeu que era preciso atuar mais cedo.
“Quando chegamos a uma escola com alunos a partir dos 13/14 anos percebemos que os estereótipos já estão bastante enraizados nas respostas que nos dão, na forma como fundamentam, por exemplo as questões da violência no namoro, que são assustadoras, e pensámos que seria importante começar a trabalhar com as crianças a partir dos três/cinco anos”, explica, acrescentando que se não se for “desconstruindo os estereótipos que estão na base, não estamos a agir no futuro”.
O projeto Crescer + IGUAL – Primeiros Anos vem ajudar a construir esse futuro até porque estas ideias enraizadas desde cedo pode afetar o desenvolvimento das crianças. “Os jogos que oferecemos aos meninos, os puzzles, estimulam muito mais o pensamento crítico e o raciocínio, enquanto as bonecas nos levam para uma área do cuidar”, refere, apelando que o desejável seria que ambos tivessem acesso aos dois mundos.
“Numa escola perguntava a que é que gostavam de brincar e, em jeito de provocação, perguntei se os meninos não iam à casinha das bonecas. Uma menina respondeu logo ‘eles não podem'”, conta, apontando que a questão dos estereótipos de género “não está resolvida, ao contrário do que muita gente diz”.
O projeto trabalha junto das crianças, mas também dos pais e dos educadores e Ana Paixão insiste que é preciso lembrar que esta temática não se trabalha só em dias temáticos, deve-se “trabalhar transversalmente na leitura de uma história, na composição da sala, nas cores que escolhemos, nos brinquedos”.
Após cinco ações de formação, o projeto está agora a trabalhar com as criações em várias ações desde leituras de histórias a peças de teatro, mas tudo muito adequado à temática e faixa etária. Nas sessões com as famílias são ainda desconstruídas as questões das tarefas domésticas e das profissões porque “as crianças são um espelho do que veem em casa”.
A associação quer mostrar que a igualdade de género não é um papão, por enquanto junto de 900 crianças e 75 profissionais de 19 jardins de infância no concelho da Amadora.
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