- 1994
- Ferro pintado
- Inv. 95E355
Rui Chafes
Würzburg Bolton Landing I
Esta escultura suspensa, cuja parte superior remete para os ombros e pescoço de um corpo humano, foi trabalhada por Rui Chafes no seu material de eleição e que constitui uma das suas marcas autorais, a rede de ferro.
Esta rede, nomeadamente aqui nesta espécie de saco-corpo, permite a evocação da pele como se fosse um invólucro que enclausura, mas que ao mesmo tempo deixa na sua transparência trespassar-se pela luz. Esta interpenetração é reforçada por uma série de binómios – peso e leveza, alto e baixo, duro e mole, interior e exterior, cheio e vazio – que reforçam a matriz da obra: tornar um material tão pesado e bruto como o ferro em algo de orgânico e frágil que, inclusivamente na sua forma, pode remeter para a sexualidade como algo que simultaneamente liberta e condiciona.
Chafes pinta sempre o ferro, para o anular como matéria, ou dito pelas suas palavras: «O que procuro no meu trabalho são formas que funcionem como caracteres de escrita. O ferro é sempre tornado negro ou cinzento para que se esconda como material.»* O ferro que se trabalha com o fogo, o fogo que arde, que queima, que crema e que remete para um imaginário que cruza a figura do alquimista com a do ferreiro, tal como esta escultura de algum modo cruza o gótico com o contemporâneo.
A referida analogia com a escrita é tanto mais importante quanto o artista também escreve e traduz (nomeadamente os Fragmentos de Novalis) e tem vários livros publicados em que as referências ao romantismo alemão e à estética do sublime são assumidas como ideário.
Aliás, o título desta escultura que é também o título de um dos seus livros, uma antologia de textos que são fundamentais para o artista, é disso paradigmático: Würzburg é a cidade onde viveu e trabalhou Tilman Riemenschneider, um artista alemão da Idade Média que chegou a ser burgomestre e o favorito de Chafes; Bolton Landing, é o nome de um terreno de grande extensão em Nova Iorque, onde o escultor americano David Smith, um expressionista abstracto, construiu o seu atelier.
Estamos assim perante uma topografia pessoal, um título que identifica a geografia artística de Chafes e que é mais uma chave para a leitura desta escultura melancólica, porque, e de novo as palavras são suas: «quero criar pontos baços, foscos e ásperos, que não resvalem, e não possuam nada de entretenimento. Quero resistir a este mundo digital, colorido, transparente, escorregadio. Pretendo com isto dizer que tento estabelecer uma estratégia da lentidão contra uma estratégia da aceleração, uma estratégia do peso contra uma estratégia de leveza.»**
Isabel Carlos
Maio 2010
* Ver entrevista a Rui Chafes de Doris von Drathen, in Rui Chafes: Um Sopro, Porto, Galeria Graça Brandão, 2003.
** Idem.
Tipo | Valor | Unidades | Parte |
Altura | 230 | cm | |
Profundidade | 12 | cm | |
Largura | 33 | cm |
Tipo | Doação |
Data | 1995 |
Linhas de Sombra |
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian e Centro de Arte Moderna, 1999 |
ISBN:972-635-115-4 |
Catálogo de exposição |
Prémio de Artes Plásticas União Latina 1996 |
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian / União Latina, 1997 |
Catálogo |
Harmonia |
Porto, Canvas & Companhia, 1998 |
Monografia |
Würzburg Bolton Landing |
Lisboa, Assírio & Alvim, 2005 |
Monografia |
Rui Chafes |
Lisboa, Editorial Caminho, 2006 |
Monografia |
Desenhos e esculturas do CAMJAP |
Câmara Municipal de Porto de Mós |
Curadoria: CAMJAP/FCG |
8 de Julho de 2005 a 28 de Julho de 2005 Castelo de Porto de Mós |
Esta exposição enquadra-se nas comemorações dos 700 anos do Foral da Vila de Porto de Mós - 8 a 28 JUL 2005 |
A Partir da Colecção |
CAMJAP/FCG |
Curadoria: CAMJAP/FCG |
25 Julho de 2006 a 29 Abril de 2007 Museu do CAMJAP - Piso 01 |
Comissariado: Jorge Molder e Leonor Nazaré |
Exposição Permanente do CAM |
CAM/FCG |
Curadoria: Jorge Molder |
18 de Julho de 2008 a 4 de Janeiro de 2009 Centro de Arte Moderna |
Exposição Permanente entre 18 de Julho de 2008 a 4 de Janeiro de 2009. |
Linhas de Sombra |
Fundação Calouste Gulbenkian |
Curadoria: Fundação Calouste Gulbenkian |
29 de Janeiro de 1999 a 18 de Abril de 1999 Lisboa |
Exposição comissariada por João Miguel Fernandes e Maria Helena de Freitas e programada por Jorge Molder e Rui Sanches. |
Würzburg Bolton Landing |
CAM/FCG |
Curadoria: CAM/FCG |
1995 a 1995 Centro de Arte Moderna, Lisboa |
7 esculturas em ferro, Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão Fundação Calouste Gulbenkian. |
Prémio de Artes Plásticas União Latina 1996 |
Fundação Calouste Gulbenkian |
Curadoria: União Latina |