A obra Voici nos Acteurs pertence à série Auto-auto-retratos realizada entre 1971 e 1972, que corresponde, segundo Lapa, a um projecto de representação do próprio corpo como imagem e sensação, sem a arbitrariedade das imagens sociais do corpo, ou seja, sem as convenções da representação do corpo. Este é o último e o mais completo de um grupo particular de auto-auto retratos, de uma série de rostos, influenciados formalmente pela obra de Michaux. Do artista belga, Lapa preferia as “cabeças”, as aguarelas, as visões de si. Máscara, ausência de rosto, ou um “rosto que ainda não encontrou a sua face”. Esta imagem resulta da organização plástica das formas, dos traços, das cores, e de uma inscrição, com a caligrafia do artista, do lado esquerdo da tela. Palavras retiradas do livro Nova Express (1964), de William Burroughs, tal como o foi o título desta pintura. Na verdade, em comentário a esta obra, Lapa revela que esta é a representação do rosto tutelar de Burroughs, escritor-pintor que se constitui como modelo para o artista eborense. Este rosto vazio sugere então o duplo, cuja significação é a de representar o sujeito; não um “retrato”, mas sim uma possível visão deformada de si próprio.
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