Na imagem Lemos não se limitou a fotografar três amigos, dois dos quais, Vespeira (1925-2002) e Alexandre O’Neil (1924-1986), tinham sido co-fundadores do Grupo Surrealista de Lisboa em 1947, e Nora Mitrani (1921-1961), poeta que tinha abraçado a causa surrealista reorganizada no pós-guerra em Paris.

A pose forçada de Vespeira na imagem, ao interpor a sua cabeça entra a de O’Neill e a de Nora Mitrani, dá a sensação de ser um intruso, como que a separar o que parece ser uma certa cumplicidade entre os outros dois.

De facto na vida amorosa de Alexandre O’Neill sucederam-se encontros e desencontros, e Nora Mitrani foi um deles por ocasião da visita da poeta de origem Búlgara, na altura a viver em Paris, a Portugal (1950).

A recusa, por parte da polícia política, de facilitar o passaporte a O’Neill, que pretendia ir para Paris encontrar-se com Nora a pedido desta, veio determinar que este não a visse mais até ao fim da sua vida.

O desfecho trágico da vida de Nora Mitrani, que acabou em suicídio alguns anos mais tarde, levou o poeta a dedicar-lhe Seis Poemas Confinados à Memória de Nora Mitrani, tendo ainda ficado registada a sua presença na vida de O’Neill no poema Um Adeus Português, publicado na revista Unicórnio (Maio de 1951), dirigida por José-Augusto França.

Na imagem Lemos parece compor, pela posição dos intervenientes, uma premonição alegórica do que iria acontecer.

JO
Maio de 2010