Nesta imagem Lemos coloca Marcelino Vespeira a deambular entre dois olhares. Um que se detém sobre uma pequena caveira, e outro sobre um manequim que aparenta uma pose de dança.

 

O simbolismo da caveira prende-se, obviamente, a toda uma tradição da pintura na sua utilização para a representação do transitório, do fim, da precariedade.

 

A pose de dança do manequim está associada à atracção que Vespeira sentiu nessa altura por Carmen Amaya (1913-1963), famosa bailarina de flamengo, que teve oportunidade de conhecer quando actuou em Portugal.*

 

Deste modo Lemos conjuga o imaginário erótico de Vespeira, simbolizado pelo manequim, e que teve expressão efectiva na sua pintura, com uma advertência de transitoriedade, simbolizada por uma caveira que, embora não humana, não deixa de ser uma referência velada às pinturas das Vanitas da História da Arte.

 

 

* Pintou-lhe uma homenagem, que faz parte da colecção do CAM, veja-se Homenagem a Carmen Amaya (1951).

 

 

JO

 

Maio de 2010