- 1970
- Troncos de madeira de pinho tratados
- Inv. 96E379
Alberto Carneiro
Uma floresta para os teus sonhos
«Nós não afirmaremos que uma árvore é uma obra de arte. Nós apenas diremos que poderemos tomá-la e transformá-la em obra de arte.»*
Estas palavras de Alberto Carneiro são clarificadoras do modo como devemos entender Uma Floresta para os Teus Sonhos. Refira-se que o autor foi pioneiro em termos mundiais no uso do conceito de arte ecológica aplicado ao fazer artístico. A escrita assume um papel importante no percurso do artista, não só enquanto dimensão confessional ou de texto revelador sobre as suas intenções artísticas, mas também como matéria-prima da obra plástica.** Mas na sua obra, o ecológico não é um discurso ou conhecimento sobre os seres vivos ou o ambiente físico e biológico em que vivem, nem tão pouco é uma arte da terra ou uma geoarte – expressão que seria uma tradução limitadora do inglês Land Art – mas antes uma arte que é uma comunhão, uma integração da terra enquanto algo de sensorial e fundante da humanidade, como o título deste trabalho de algum modo torna claro.
Esta é uma instalação, ou, como diria Carneiro, uma escultura natural ou um envolvimento, que é realizada pelo autor quando regressa de Londres, após completar a pós-graduação na Saint Martin’s School (1968-70), sob a direcção de Anthony Caro e Phillip King; e é de referir que quando o artista chega a essa escola de referência, Hamish Fulton e Richard Long, que se tornariam referências incon tornáveis da Land Art, estão de saída como alunos. Mas o que se torna muito claro em confronto com esses autores, é o facto de Alberto Carneiro criar uma linguagem própria e um estar na vida e na arte de um modo único e irredutível a escolas e autores. Em Carneiro, a natureza não é propriamente algo de distante e a sua obra não resulta do desejo do homem urbano de entrar em contacto directo com os elementos primordiais, procurando uma ligação mística e religiosa, um religar que a vivência citadina aparentemente afasta. Ao invés de um conceito, a natureza é o lugar primeiro a partir do qual os outros lugares acontecem, não surge como representação, mas como presentificação.
Presentificação e transposição, porque os elementos naturais são transportados ou transferidos para o espaço da arte – a galeria ou o museu – tal e qual, ou seja, abandona-se de vez a representação: um tronco de árvore não é dado a ver através do desenho ou de uma fotografia, mas é um tronco de árvore ele mesmo que é mostrado, como em Uma Floresta para os Teus Sonhos, em que 200 troncos de árvores de diferentes dimensões e alturas podem não só ser contemplados, como atravessados ou tocados. Facilmente se compreende por que é que o artista prefere ainda hoje o termo envolvimento ao de instalação, atendendo a que o que procura é uma imersão total na obra e que ela chegue aos sentidos do corpo do espectador, desde a visão até ao tacto, passando pelo cheiro. Nesta “floresta”, Alberto Carneiro convida-nos a um contacto directo: apresenta e não representa.
Isabel Carlos
Maio de 2010
* Alberto Carneiro, “Notas para Um Manifesto de Arte Ecológica”, Dezembro, 1968 – Fevereiro, 1972, in Alberto Carneiro, Lisboa / Porto, CAM – Fundação Calouste Gulbenkian / Fundação de Serralves, 1991, p. 62
** Refira-se, a título de exemplo, a obra Os sete rituais estéticos sobre um feixe de vime na paisagem, de 1975, que pertence igualmente ao acervo do CAM.
Tipo | Valor | Unidades | Parte |
Altura | 210 | cm | |
Diâmetro | 36 | m2 |
Tipo | Aquisição |
Data | Junho de 1996 |
NATURALIA |
Lagos, Centro Cultural de Lagos, 2006 |
Catálogo de exposição |
50 Anos de Arte Portuguesa |
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2007 |
ISBN: 978-972-678-043-4 |
Catálogo de exposição |
Hors Catalogue - Un projet Gulbenkian à propos de sa collection |
Amiens, Maison de la Culture d'Amiens, 1997 |
ISBN: 2 903082 70 8 |
Catálogo de exposição |
NATURALIA |
Centro Cultural de Lagos |
Curadoria: Leonor Nazaré |
21 de Outubro a 30 de Dezembro de 2006 Centro Cultural de Lagos |
Hors Catalogue - Un projet Gulbenkian à propos de sa collection |
CAMJAP/FCG |
Curadoria: João Fernandes |
Dezembro de 1996 a Fevereiro de 1997 Casa da Cultura de Amiens, França |
Uma co-produção da Casa da Cultura de Amiens e do Serviço de Belas-Artes e do CAMJAP da Fundação Calouste Gulbenkian. |
50 Anos de Arte Portuguesa |
Fundação Calouste Gulbenkian |
Curadoria: Raquel Henriques da Silva, Ana Ruivo e Ana Filipa Candeias |
6 de Junho a 9 de Setembro de 2007 Sede da FCG, Piso 0 e 01 |
Exposição programada pelo Serviço de Belas-Artes e pelo Centro de Arte Moderna, da Fundação Calouste Gulbenkian. |
Exposição Permanente do CAM |
CAM/FCG |
Curadoria: Jorge Molder |
18 de Julho de 2008 a 4 de Janeiro de 2009 Centro de Arte Moderna |