Esta é das poucas imagens da série do Japão que seleciona o espaço interior de um edifício – um largo corredor ou pavilhão de madeira ao fundo do qual uma porta se abre sobre a vegetação no exterior. O seu recorte equivale a um retângulo de luz que contrasta fortemente com a penumbra interior e que estabelece o limiar de transição.

Mas é a condição oblíqua do plano da imagem que a torna marcante. No país dos terramotos frequentes, a inclinação drástica de um edifício é uma possibilidade e uma fonte de angústia; contudo, algo nos diz que o ângulo excessivo de inclinação é fabricado pelo fotógrafo, que não poderia encontrar-se no local e captar calmamente este enquadramento se estivesse no espaço de uma derrocada. Situados, deste modo, na certeza duma opção estética, sentimos que algo deve ser sublinhado na dimensão psicológica que se lhe associa – o lugar é sólido e sensível, vazio e tenso, fechado e aberto, assente e deslizante, grande e restrito, real e improvável.

Leonor Nazaré
Curadora do CAM