The Vivian Girls as Windmills [As Meninas Vivian como Moinhos de Vento] faz parte da série de pinturas de Paula Rego intitulada Vivian Girls, datada de 1984, e inspirada em The Realms of the Unreal [Os domínios do irreal], de Henry Darger (1892-1973). Esta narrativa desenvolve-se em torno de sete princesas, filhas de Robert Vivian, escravizadas e torturadas por soldados. A obra de Darger costuma ser dado como exemplo da Outsider Art ou Art Brut. Paula Rego contactou pela primeira vez com a obra do artista norte-americano em 1979, quando visitou a exposição Outsiders na Hayward Gallery em Londres. Aqui, um dos comissários da exposição, Victor Musgrave, mostrou-lhe esta história do desconhecido artista.

Como referiu a própria artista, as Vivian Girls basearam-se nas jovens de Darger, mas nada têm que ver com as suas histórias. Não obstante, os vários volumes que compõem The Realms correspondem a fantasias literárias, contos de fadas, tal como o universo encenado por Rego: um universo de medo personificado em telas. Neste sentido, o contacto com a obra do artista francês Jean Dubuffet (1901-1985), em 1959, fomentou o seu interesse por um modo de fazer arte que suscitava a invenção de mundos paralelos, a metamorfose do corpo humano e uma conceção mental e psicológica afastada das convenções artísticas de escolas de arte, museus e galerias.

Abandonando a colagem de desenhos previamente delineados, Rego passa a desenhar a acrílico sobre papel, como acontece em The Vivian Girls as Windmills. Esta pintura deixa em aberto uma possível narrativa ou narrativas, se tivermos em conta o número considerável de personagens que a compõem e a distribuição anárquica das figuras de cores vivas. Não existe qualquer sequência na superfície pintada, embora esta se apresente totalmente coberta. Os moinhos de vento são apresentados por Paula Rego em forma de raparigas que dançam, se sobrepõem e se envolvem em si próprias. Os moinhos são cenários deste universo reguiano, em que as figuras, atemorizadas nas suas atitudes cénicas, agem perante um tempo e um espaço atípicos.

 

 

Patrícia Rosas

Janeiro 2010