A pintura excede pouco o tamanho de um cartão-postal. Miguel Branco havia regressado de dois anos de estudo em Londres, em 1998, com duas escolhas artísticas fundamentais: o uso da madeira como suporte preferencial e a redução radical na escala dos seus óleos. Se antes se anunciava como um dos principais petits maîtres da pintura portuguesa (com pouca tradição nessa nobre linhagem que vai de Chardin a Morandi), agora, por força de uma nova concentração pictórica mais intensa e mais densa em centímetros mínimos, Branco conseguia investir as miniaturas com a mesma autoridade e gravidade de escalas maiores, sustendo demoradamente o olhar casual que as descobre. Essa preciosidade do pequeno formato surge além do mais reforçada pelo pigmento verde, luminoso e refinado, que a pincelada alonga e espraia deleitadamente sobre a madeira.

A forte sensação material que emana da miniatura da pintura acontece pois à revelia dos raros elementos figurativos apresentados, como a figurinha turva e descontextualizada: o pintor reclamava então um quadro «totalmente vazio de significado», numa demanda puritana e anti-conceptualista contra a tirania da pintura com “significados”. Nesse aspecto, o seu discurso visual meditado e contido parece nascer nos antípodas da sua geração, muito definida pelo neo-expressionismo (exagerado, narcisista e auto-destrutivo) ou pela fria arte conceptual. Ao invés, Miguel Branco, na sua inteira devoção à pintura, envolve-se de tal maneira nos seus quadros que a sua presença neles se torna reticente.

AR