Ao longo do período londrino de Miguel Branco (1996-98) as suas pinturas habituaram-se a receber um manejar mais solto no tratamento da tinta, em extensas pinceladas que obtinham protagonismo ao mesmo tempo que davam origem a formas figurativas cada vez mais frequentes na sua obra. Além disso, teve também lugar uma diminuição radical na escala dos quadros para a dimensão de miniaturas, o que remete para a necessidade de intimidade e decoro, ou, nas próprias palavras de Branco, de “discrição e concentração” na linguagem interna dos seus quadros, afim de conseguir avançar na sua demanda pela pintura pura.

A pequena criatura deixa um traço castanho ao esquiar através da superfície desta paisagem de pintura, plena de uma luxuosa cor amarela, dourada e suave – o tal “meio críptico e condensado” que o pintor declarava então procurar. Apesar do mínimo de traços e de uma composição sem eventos, Miguel Branco consegue extrair da pintura uma certa alquimia que nos oferece peso, expressão e evocação, e para a qual o velho maniqueísmo modernista entre o que é abstracção e o que é figuração parece obsoleto. Porque afinal, a sua pintura mutista não se trata, como descreveu, de um “discurso” mas sim de um “murmúrio“.

AR