Com ligação assumida ao romantismo, Fernando Calhau realiza em finais da década de 1970 os Night Works, título já por si carregado de significado. São trabalhos efetuados de noite ou sobre a noite, em que o artista traz-nos de novo a questão do binómio espaço / tempo. Muitas vezes realizava séries de 36 fotografias, a extensão de um rolo de filme que assim determinava o tempo da obra. Para o artista a noite enche-se de simbolismos e fantasmas: o medo do escuro, florestas sombrias, a indefinição do horizonte, o isolamento, a envolvência, a memória, a relação com o espaço, com a poesia… Na época em que trabalhou estas pinturas e fotografias estava a ler a Ode à Noite de Fernando Pessoa, onde a noite é extensão de mistério e misticismo.

 

A luz do luar ou de candeeiras dominam frequentemente as imagens noturnas, como na série Night Works – Out Door Situation [trabalhos de noite – situação exterior] (veja-se os conjuntos sem título #796 #797 #798, #799 #800 #801, #802 #803 #804 e #805, #806, #807, todas de 1978). Noutro conjunto, S/ Título (1977), o negro e o azul-escuro são reforçados pela luz azul refletida no veludo preto das palavras «DARK» [escuro] e «BLUE» [azul] escritas a néon, simulando a luz do luar. Por outro lado, os desenhos #472 e #473 (1979) remetem para as páginas da série Void Gaps [lacunas vazias] (#786, #788 e #789), do ano anterior, apontando para uma leitura que vê neles o vazio noturno retratado nas fotografias anteriores.

 

 

JSH

 

Maio de 2010

 

 

Revisto por GV, Julho de 2012