Entre as geometrias depuradas que marcam a obra de Fernando Calhau, o quadrado surge como uma forma recorrente – que primeiro se move da gravura para o desenho e para a pintura, e que depois passa de um registo bidimensional à tridimensionalidade. Pois é como um quadrado no espaço que se configura S/ Título #336, construída como uma caixa em chapa de aço em cujas faces interiores foram aplicadas quatro palavras em néon que designam os quatro pontos cardeais – embora a sua posição não siga a ordem convencionada.

 

Trata-se de uma peça que, revelando algumas preocupações características ao Minimalismo, para além de ter sido executada com materiais industriais que não receberam a intervenção direta do artista, é localizada diretamente sobre o pavimento do espaço expositivo, partilhando o mesmo plano de ação do espetador – com o qual interage, uma vez que não reclama apenas o seu olhar, mas o leva a confrontar-se com uma presença no espaço, em torno da qual pode deslocar-se. No entanto, neste caso, a interligação com o espaço real supera uma conexão estabelecida entre a obra e o contexto físico em que esta se situa, na medida em que a peça deve ser posicionada de modo a que a palavra «norte» fique orientada para o norte geográfico, inscrevendo-se assim numa ordem espacial ilimitada, que ultrapassa indefinidamente o espaço da sua exibição.

 

Neste trabalho, o habitual negro de Fernando Calhau – utilizado cromática, mas também simbolicamente – não corresponde a um vazio ou a uma mancha escura sem qualquer orientação, já que surge associado a indicações que não só o localizam como o iluminam.

 

 

MBA

 

Novembro de 2011