A obra de Jorge Pinheiro teve um começo figurativo influenciado por soluções expressionistas e temáticas literárias e sociais que a integravam na diluição das poéticas neo-realistas. Em 1966, verificou-se uma ruptura absoluta, e toda a sua obra passou a integrar os desenvolvimentos históricos da abstracção-geométrica: das experiências plásticas (bi e tridimensionais) de Max Bill ou Phillip King, às especulações de Rudolph Arnheim no campo da Psicologia da Arte. Na década de 70, regressou à figuração, mas manteve, até início da década seguinte, e em torno das possibilidades plásticas da série Fibonacci, a sua mais radical investigação abstracta.
A obra apresentada, produzida no âmbito do Grupo “4 Vintes”, é uma das primeiras experiências de Jorge Pinheiro no novo campo de expressão e um dos mais perfeitos exemplos do seu vocabulário abstracto e metodologia de trabalho iniciais. O perfeito domínio da cor percebe-se no modo como participa e determina a definição interna e externa da forma e como a articulação entre ambas introduz subtis jogos de ilusionismo óptico que, noutras obras, o uso de espelhos e vidros acentuará. Por um lado, é uma imagem sem narrativa. Mas por outro, o desenvolvimento ascendente e descendente e a ondulação subitamente introduzida numa figura que parecia destinada à simetria, conferem dinamismo, liberdade e humor ao conjunto.
João Pinharanda
Maio de 2010