• Papel
  • Óleo e Grafite
  • Inv. DP235

Paula Rego

sem título

Não obstante a ausência de título e de data nesta obra, tudo parece indicar tratar-se de um estudo para a tela Salazar a Vomitar a Pátria (1960, óleo sobre tela, 94 x120 cm), também da colecção do Centro de Arte Moderna.  Relativamente à datação, verificamos que os materiais, a sua exploração, o suporte e as formas delineadas apresentam uma continuidade com as obras realizadas entre 1959 e 1961, nomeadamente Aparição (1959, óleo sobre papel, 20 x 30 cm), Troféu (1960, óleo sobre papel, 29 x 42 cm) ou Rainha (1961, colagem, carvão e óleo sobre tela, 20 x 30 cm).

 

Em primeiro plano, numa apresentação frontal que nos remete para os desenhos infantis — denotando, a este nível e na forma como emprega os materiais, a influência decisiva do encontro com a obra de Dubuffet em 1959 ­—, a autora desenha três figuras. Na central e na da esquerda apercebemo-nos claramente de uma ligação com as personagens que ocupam a mesma posição em Salazar a Vomitar a Pátria: neste último, a forma e os campos de cor da figura da esquerda são depurados, a figura central perde a sugestão antropomórfica dos braços, mas mantém o essencial da sua forma ovoidal, o seu apoio sobre um banco e adquire nova intensidade pela transformação de certos elementos figurativos (como a sugestão de órgãos sexuais na figura central) e pela presença mais evidente da cor. Todavia, nesta obra observamos um grupo de figuras ausentes de Salazar a Vomitar a Pátria: em segundo plano, no canto superior direito da composição, a autora desenha a grafite uma mesa com três pequenas personagens, as menos abstractizantes da composição.

 

A expressividade plástica da obra é conseguida através da exploração da materialidade do grafite e do óleo, num equilíbrio tenso em que uma técnica se não sobrepõe à outra. O óleo é assumido na sua visceralidade de material, jogando com concentrações mais densas e outras mais transparentes, misturando pigmentos, numa manipulação em que os materiais parecem funcionar como um índice do gesto de pintar. Simultaneamente, o grafite, para além de delinear formas, parece empregue também como a marca de uma trajectória de um gesto, mais carregado ou mais suave, aceitando as suas indecisões e sublinhando a forma que finalmente se deseja.

 

Paula Rego oferece-nos uma obra aberta a todas as interpretações, até por se recusar a ancorá-la num título narrativo. A liberdade da sua imaginação e composição é-nos, assim, completamente devolvida.

 

 

Luísa Cardoso

Julho 2014

 

Tipo assinatura
TextoPaula Rego
Posiçãofrente, canto superior esquerdo
TipoAquisição
DataJulho de 1983
Atualização em 23 janeiro 2015

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