• 1964
  • Papel
  • Ponta-seca e Água-tinta
  • Inv. GP1335

Paula Rego

S/ Título (“A espada de cortiça”)

Da praticamente inexistente bibliografia sobre a gravura em questão, consta de um catalogue raisonné sobre a obra gráfica da artista que esta é “uma de duas gravuras políticas”, intitulando-se a outra Quebra-Cabeças, também pertencente à colecção do CAM.*

 

A partir desta informação e tendo em conta a datação da gravura — 1964 — não é difícil especular sobre os possíveis significados desta gravura surrealista. Sobre um fundo negro, destacam-se três personagens em primeiro plano. A de maiores dimensões sugere um animal quadrúpede, de cujo corpo se destaca um longo pescoço com uma pequena cabeça. Na sua parte traseira, é acoplada uma chave — a espada de cortiça a que se refere o título? Por baixo da figura, em jeito de legenda enquadrada por um rectângulo, lê-se: “PÁTRIA”.

 

Sobre esta figura, paira outra de menores dimensões. À direita deste grupo, observamos uma terceira personagem, alada, equilibrando-se sobre um alto monociclo ao qual se agarra com uma das patas, parecendo suster, horizontalmente, uma espécie de lança (será esta a espada de cortiça, apontada à cabeça do quadrúpede?). No outro braço, observamos um objecto que se parece a uma Cruz de Cristo.

 

No contexto de ditadura salazarista e de guerra colonial de 1964, a que aludirá a dimensão política desta gravura? Será a figura central do centauro dominado a metáfora do país e a personagem alada com a Cruz de Cristo (símbolo manuelino reelaborado no neo-manuelino pelo nacionalismo oitocentista e ideologicamente reaproveitado pelo salazarismo) o símbolo da opressão do regime ditatorial? T. G. Rosenthal afirma tratar-se de “uma mordaz sátira política, em que Franco e Salazar dançam em cima das costas um do outro”.** Com efeito, Paula Rego afirma que o “monstro” de quatro patas representa a pátria sobre a qual dançam duas personagens enlaçadas. Pretendia a autora que esta gravura fosse uma crítica irónica ao fascismo, ironia que se destaca na escolha do título: a espada de cortiça, oriunda de contos infantis, não consegue na realidade cortar nada.***

 

As ambiguidades interpretativas características da linguagem do surrealismo parecem servir para eludir a censura, mascarando uma crítica que não passaria incólume se ousasse explicitar-se.

 

 

 

* Hannah Begbie, “Catalogue Raisonné” in T. G. Rosenthal, Paula Rego. Obra Gráfica Completa, Vol. 3, Lisboa, Cavalo de Ferro/Jornal de Letras/Visão, 2003, p. 255

 

** T.G Rosenthal, Paula Rego. Obra Gráfica Completa, Vol. 3, Lisboa, Cavalo de Ferro/Jornal de Letras/Visão, 2005, p. 15

 

*** Depoimento de Paula Rego por correspondência electrónica, datada de 13.03.2014.

 

 

 

Luísa Cardoso

Julho 2014

TipoValorUnidadesParte
Altura44cmpapel
Largura58,5cmpapel
Largura24,6cmmancha
Altura18cmmancha
Tipo assinatura
TextoPaula Rego
Posiçãofrente, canto inferior direito da mancha
Tipo data
Texto64
Posiçãofrente, canto inferior direito da mancha
Tipo n.º de série
TextoXIII/XV
Posiçãofrente, canto inferior esquerdo da mancha
TipoDoação
DataA definir
TipoSelo
TextoG
Posiçãocanto inferior esquerdo
Notasselo do editor - Gravura - Cooperativa de Gravadores Portugueses
Atualização em 23 janeiro 2015

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