- 1964
- Papel
- Água-tinta e Água-forte
- Inv. GP194
Paula Rego
Quebra-Cabeças
No catalogue raisonné da obra gráfica de Paula Rego da autoria de Hannah Begbie, a gravura Quebra-Cabeças surge emparelhada com a gravura A Espada de Cortiça (igualmente presente na colecção do CAM), acrescentando a autora tratarem-se de gravuras políticas. Para além da coincidente datação e da oficina de gravura onde foram executadas (Gravura — Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses), há óbvios paralelismos entre as duas obras. Para além de apresentarem a mesma linguagem surrealizante, há elementos figurativos comuns (como seja a presença de um monociclo) e estratégias compositivas semelhantes (como a resolução do espaço com um plano horizontal, sobre o qual são colocadas as personagens, e um plano vertical e fundeiro a negro).
A comparativa leveza destas personagens relativamente à gravura Espada de Cortiça sugere alusões com um universo cómico de banda desenhada ou circense, oferecendo personagens irreais que parecem desfilar para o espectador na caixa de um palco ou de um ecrã, atravessando-a longitudinalmente.
Sobre um chão representado por uma faixa branca e por uma lista a branco e preto — que, revela-nos a autora, se trata de um piano*—, caminham quatro personagens. A da esquerda, a mais antropomórfica de todas elas, parece uma personagem masculina, de cuja perna esquerda salta um pé extensível que lhe pontapeia a própria cara. A representação desse choque com traços ao seu redor remete-nos indiscutivelmente para o universo gráfico da BD. Ao centro observamos uma personagem sobre um monociclo, de cujo corpo arredondado a traços sinuosos emerge uma pequena cabeça e duas asas. Tal como em A Espada de Cortiça, também nesta gravura o equilibrista do velocípede é alado. À direita desta figura, observamos outra que literalmente perdeu a cabeça: nela discernimos um tronco, um pé e duas mãos. Pertencer-lhe-á o chapéu que vemos perto do monociclo? No extremo direito da composição, consta um pássaro, cuja cabeça remete para uma gaivota, cegonha ou pelicano, sustendo um peixe no bico. Se a proporção da cabeça do pássaro se impõe, quase não tem asas, restando-lhe equilibrar-se sobre a única pata que possui.
No canto superior direito da composição, figura um rectângulo branco com uma inscrição, sobrepondo-se a três letras invertidas. Nenhuma das palavras é claramente legível.
Se alguma narrativa ou interpretação coesa existe nesta gravura é refém da sua autora. Resta ao espectador reinventá-la, seguindo assim o repto do título.
* Depoimento de Paula Rego por correspondência electrónica, datada de 13.04.2014.
Luísa Cardoso
Julho 2014
Tipo | Valor | Unidades | Parte |
Largura | 58,6 | cm | papel |
Altura | 44,1 | cm | papel |
Altura | 17,8 | cm | mancha |
Largura | 24,5 | cm | mancha |
Tipo | data |
Texto | 64 |
Posição | frente, canto inferior direito da mancha |
Tipo | n.º de série |
Texto | X/XV |
Posição | frente, canto inferior esquerdo da mancha |
Tipo | assinatura |
Texto | Paula Rego |
Posição | frente, canto inferior direito da mancha |
Tipo | Aquisição |
Data | Abril de 1988 |
Tipo | Outras |
Texto | G |
Posição | frente, canto inferior esquerdo |
Notas | selo do editor - Gravura - Cooperativa de Gravadores Portugueses |