- 2002
- Televisão, VídeoDVD, VídeoDVD e VídeoDVD
- A definir
- Inv. IM19
Filipa César
Product Displacement
Em Product Displacement, Filipa César interroga a vida contemporânea num espaço ao mesmo tempo quotidiano e privado, comum e interior: a casa. A instalação é composta por um díptico que mostra várias pessoas em diferentes espaços da casa (ecrã esquerdo) e close-ups daquilo que estas pessoas parecem ver (ecrã direito). As personagens do filme são estilizadas, abstraídas pelo constante reaparecimento, pela sua quietude e falta de comunicação. Transformam-se em produtos em permanente deslocação. A virtualidade das personagens é sublinhada pela configuração da casa, visualizada através do repetido travelling da câmara, que abre uma espiral impossível e interminável de tempo e espaço, deslocando ainda mais os objetos-personagens expostos.
Há, em ambos os ecrãs, uma complexa tensão entre elementos estáticos e dinâmicos. O close-up corresponde a um momento de paragem, em que o movimento é interrompido ou desacelerado, podendo servir para ensaiar uma leitura dos objetos apresentados. Contudo, a progressiva indefinição de cada imagem vem frustrar esta quietude, igualmente desafiada pela dissolução (ou cross-fade) de uma imagem noutra, utilizada para ligar todas as imagens num lento mas inexorável movimento. As personagens que aparecem no ecrã à esquerda são estáticas, com exceção de alguns pequenos e quase invisíveis micro-movimentos (como um piscar de olhos). A câmara que regista esta imobilidade, pelo contrário, está em movimento (o travelling).
A visão simultânea de ambos os ecrãs reforça estas tensões: a descodificação dos close-ups como o ponto de vista subjetivo das várias personagens contamina as suas posições estáticas com um possível movimento que ainda está por vir. Esta reconstituição de uma imagem pessoal, psicológica, das personagens retratadas é um mecanismo partilhado com uma obra fotográfica do mesmo período: Monologues (2002). O díptico também pode ser lido como um dispositivo refletor, em que tanto as personagens como os objetos se tornam personagens-produtos e mimetizam os movimentos um do outro.
O espetador é convidado a apropriar a obra e recriar o leque aberto de significados, representações e presenças. As tensões assinaladas acima, bem como o apelo à interação, são sublinhadas pelo carácter silencioso da obra. O seu silêncio não só espelha a falta de comunicação das personagens do filme, como também, e sobretudo, incorpora o espetador no filme, usando como banda sonora os sons do ambiente em que é apresentado – alguns produzidos pelo próprio espetador. Desta forma, não só reforça a estrutura dinâmica do filme, e por isso as suas tensões, mas também a reflexão que encerra e requer.
JL
Janeiro de 2011
Tipo | Valor | Unidades | Parte |
Altura | 0 | cm |
Tipo | Aquisição |
Data | Março de 2003 |
50 Anos de Arte Portuguesa |
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2007 |
ISBN:978-972-678-043-4 |
Catálogo de exposição |
50 Anos de Arte Portuguesa |
Fundação Calouste Gulbenkian |
Curadoria: Fundação Calouste Gulbenkian |
6 de Junho de 2007 a 9 de Setembro de 2007 Sede da FCG, Piso 0 e 01 |
Exposição programada pelo Serviço de Belas-Artes e pelo Centro de Arte Moderna, da Fundação Calouste Gulbenkian. Comissariado: Raquel Henriques da Silva, Ana Ruivo e Ana Filipa Candeias |