• 2004
  • Alumínio
  • Tinta acrílica
  • Inv. 05P1281

Pedro Calapez

Passagem 10

Escala de cor

 

Começo por seleccionar todas as cores que os fabricantes de tintas proporcionam. Disponho os respectivos potes de tinta na mesa de trabalho agrupando-os segundo uma possível paleta de cores: estabeleço uma escala entre as cores que primeiro penso utilizar e as suas opostas, não no sentido óptico ou de círculo cromático, mas por associações subjectivas, intuitivas. Por vezes restrinjo de início o número de cores a utilizar. Já tem acontecido escolher apenas duas cores, pintar apenas com branco e preto. Os tons intermédios surgem no fazer duma intensidade antes de pintar ou resultam da mistura física na superfície do quadro onde os “degradés” proliferam pelo arrastar da tinta. Dimensões, forma, distância, actuam na escolha das cores. O processo de pintar flui irregularmente entrecortado por momentos de contemplação, em que, como espectador, experimento os múltiplos cromatismos presentes. O processo repete-se sendo o momento de terminar determinado no relance do olhar que certifica.

 

É dum concreto problema que me ocupo: fazer funcionar cores, formas, volumes. Que dimensão poderá ainda ganhar, ao olhar de quem olha, um conjunto de cores, delimitadas pelas particulares superfícies que as comportam? Será que ainda é possível reivindicar importância ao olhar? O olhar como parte dum sentir? As cores e as formas não o são apenas. Algo emana da sua física presença. Como aparecem e se estruturam é determinado no fazer, parte determinante no processo da pintura.

 

Pairam as cores diante de mim, deslocando-se como nuvens num céu rápido de ventos. Arrastam-se umas nas outras, ora fundindo-se ora arranhando-se. Contrastam entre si, promovem jogos inesperados. Falamos de Arnheim, Itten, Kandinsky, Chevreul, Goethe para convocar uma mão cheia de explicações. Mas fica sempre algo por dizer. O espaço das cores é variável e ambíguo, não é explicativo ou afirmativo. Tanto permite falar de politica como de amor, como de nada. Falar de nada é ainda uma possibilidade, a última possibilidade para ainda comunicar. O lugar da comunicação, da contemplação, desloca-se. As imagens continuam a existir para além do que podem ilustrar. Estabelecem um mundo com vitalidade própria onde a discussão da realidade é um assunto menor. Revelar a cor, relembrar a sua existência, só é possível na física empatia da sua intrínseca natureza.

 

Pedro Calapez

 

 

TipoValorUnidadesParte
Altura150cmconjunto total dos 28 elementos
Largura512cmconjunto total dos 28 elementos
TipoAquisição
Data5 de Janeiro de 2005
Pedro Calapez - obras escolhidas/selected works, 1992-2004
CAMJAP/FCG
Curadoria: Jorge Molder
15 de Outubro de 2004 a 9 de Janeiro de 2005
Galeria do Piso 1 do museu do CAM
Exposição programada por Jorge Molder e comissariada por Helena de Freitas e João Miguel Fernandes Jorge.
A Partir da Colecção
CAMJAP/FCG
Curadoria: CAMJAP/FCG
25 Julho de 2006 a 29 Abril de 2007
Museu do CAMJAP - Piso 01
Comissariado: Jorge Molder e Leonor Nazaré
Atualização em 23 janeiro 2015

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