• 1975
  • Feixe de vime e sete séries com treze fotografias cada
  • Inv. 90E861

Alberto Carneiro

Os sete rituais estéticos sobre um feixe de vime na paisagem

A obra Os sete rituais estéticos sobre um feixe de vime na paisagem integrou a representação portuguesa à XXXVI Bienal de Veneza de 1976, edição em que Portugal participa pela primeira vez. Desenvolve-se a partir da noção essencial de “comunicação estética”, que para Alberto Carneiro assenta “sobre aquilo que, a cada momento, transforma e é transformado em sítio de arte e é apropriado como tal”: um feixe de vime com 2,70 m de altura, atado em cone e ligeiramente curvado no extremo superior.

 

Olhado como escultura ou como intervenção humana (artística) na natureza, e fotografado em sete locais diferentes – do plano de uma praia ou da margem de um rio, a um monte rochoso ou ao cruzamento de estreitas veredas empedradas, do matagal ao campo aberto –, Carneiro identifica sete “momentos”, a par desses lugares, neles se definindo a essência da intervenção. A partir da alteração das “relações do espaço-paisagem” provocada pela presença do “elemento agregador (feixe de vimes) que “suscita os factores estéticos” até à “codificação do ritual num espaço de arte”, os restantes “momentos” passam por sucessivas marcações das relações estéticas.

 

Monumento frustre, frágil e perecível, o feixe de vime impõe-se pela sua dimensão e pelo seu porte nas diferentes naturezas representadas nos sete rituais, e a própria fita que ata o vime desce e espalha-se em volta, fundindo-se, simbólica ou materialmente, com a natureza circundante. Como sempre na obra de Carneiro, o artista desafia a decifração do observador e, justificando os rituais num texto manuscrito que faz parte da própria obra, identifica cada um dos sete “momentos”. “Percurso entre o mar e a montanha”, o feixe de vimes é o elemento central e agregador em cada ritual, onde “materiais da terra se transformam em matéria de arte pela síntese dos sete rituais no sítio da arte – a galeria ou o museu”.

 

Por estes anos, o artista percorre o país, observando o que designou por “formas e procedimentos estéticos resultantes do amanho da terra”, experiência marcante que resgata para a arte, aqui, através de uma intervenção directa na natureza que surge documentada em sete painéis fotográficos (cada painel com 13 fotografias em disposição quadrangular, sendo a fotografia central de dimensão superior às restantes). O uso exclusivo do registo a preto e branco realça a concepção do artista de que a arte é uma segunda natureza e não a sua reprodução: “A minha não utilização da fotografia a cores vem desse propósito de me distanciar da natureza natural para a poder recriar como segunda natureza, a da arte.” As fotografias de cada momento/ritual documentam a acção sequencial desenvolvida sobre o espaço natural: são os gestos íntimos e rituais do artista que não sugerem nunca a performance pública, deixando antes transparecer um imenso respeito pela natureza assim partilhada.

 

 

MG

 

TipoValorUnidadesParte
Altura270cmfeixe de vimes
Diâmetro70cmbase
TipoAquisição
DataJaneiro de 1990
Alberto Carneiro - Exposição Retrospectiva 1968/2003
Museu de Arte Contemporânea Fortaleza de São Tiago, Funchal
21 de Março a 27 de Maio de 2003
Museu de Arte Contemporânea Fortaleza de São Tiago
Atualização em 23 janeiro 2015

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