Moledo do Minho é uma localidade junto de Caminha para a qual Fernando Lemos se deslocava de tempos a tempos, para conviver com o seu amigo mais velho, e companheiro de percurso, António Pedro que, deixando Lisboa, para lá fora viver em 1950.

Os frequentes nevoeiros costeiros forneceram o tema desta imagem, certamente porque Lemos viu na sua projeção sobre a noite a possibilidade de um vislumbre misterioso. A aura luminosa do candeeiro em primeiro plano e a solidão do espaço pontuado pelos outros focos luminosos, que se diluem no nevoeiro, sugerem a possibilidade de transfiguração de um cenário em que o fantástico e o furtivo indiciam uma dimensão narrativa onírica e surreal. No entanto, essa narrativa fica em suspenso pela singularidade da imagem, talvez à espera da inscrição do humano, do drama, da revelação, da ação.

Desta imagem talvez se possa dizer que Lemos apenas preparou o palco, no entreabrir das cortinas do obturador da sua máquina fotográfica.

JO
Agosto de 2011