Nesta imagem Lemos fotografou um dos manequins intervencionados expostos por Marcelino Vespeira numa exposição de 1952 na Casa Jalco. Fazendo parte do acervo do CAM (O Menino Imperativo, 1952), o manequim retratado, cuja cabeça foi substituída por um búzio, é o único que sobreviveu até aos nossos dias.

O aspeto fantasmagórico do manequim é perfeitamente captado neste fotografia. Como iluminação, Lemos utiliza as velas nos ombros do manequim que faziam parte da intervenção de Vespeira e que, através da contra-luz, simultaneamente revelam e ocultam. Deste modo, parece situar-se entre dois mundos, o da luz e o das sombras, dos vivos e dos mortos, do reconhecimento e da estranheza.

Hoje, apagadas as velas e colocado num espaço museológico, o manequim sugere antes um corpo embalsamado pelo tempo, em que as escorrências da cera que o percorrem testemunham de uma breve vida, captada nesta imagem por Fernando Lemos.

JO
Maio de 2010
Revisto por GV, Outubro de 2012