Em passeio pela rua de um jardim ou mata pública, uma figura feminina é captada de costas, num movimento que a marcha torna dinamizador da (as)simetria corporal. As vestes e os adereços são nitidamente asiáticos, a silhueta esguia e frágil, como é comum nestas populações, o cabelo arrumado de modo também tradicional. O desenho nas costas é o logotipo das domésticas em Quioto.

A qualidade bidimensional da imagem cria sobreposições formais que não existem em contexto real, porque é isso mesmo que a fotografia fabrica – uma composição e um ponto de vista.

A cabeça e o corpo, visível até aos joelhos (o ponto em que o movimento da caminhada é articulado), abrem um espaço vertical no arvoredo que parece uma incrustação. Desse modo, os lugares por onde o olhar da transeunte supostamente vagueia fundem-se, na imagem, com grande parte do seu corpo, apesar de ser salvaguardado, do lado direito, o espaço mais aberto do caminho que está a ser percorrido.

Leonor Nazaré
Curadora do CAM