• 1969
  • Platex
  • Tinta acrílica
  • Inv. 69P145

Joaquim Rodrigo

Lisboa – Algeciras

Lisboa-Algeciras pertence a um vasto conjunto de “vestígios da memória de viagens” que Joaquim Rodrigo realizou a partir de 1969, tornando-se pretexto obsessivo da sua pintura nas duas décadas seguintes. Nestas obras, Rodrigo encontrou a paleta com que irá prosseguir a sua investigação conducente ao “pintar certo”, uma teorização da pintura na qual defendia a existência de um “quadro correcto”, composto a partir de uma determinada ordem na aplicação de quatro cores. Na «macrobiótica da cor»* que preconiza, aceita unicamente as cores existentes na terra – o branco, o amarelo, o encarnado e o preto –, a que por vezes, quando necessário, associa o cinzento. As formas são reduzidas a pictogramas, uma expressão figurativa visível na sua pintura a partir de 1960. Nesta mesma data, sente necessidade de «contar histórias»** que surgem como comentários à sua contemporaneidade, numa selecção crítica de acontecimentos marcantes no plano nacional e internacional. Entre as várias “histórias” abordadas, e tratando-se de uma “década política” para o pintor, assumem relevância os acontecimentos que referem a guerra colonial, com destaque para o assalto ao navio Santa Maria, pintura datada de 1961.

 

A composição diagramática de Lisboa-Algeciras, realizada em 1969, revela uma pintura já muito afastada das preocupações políticas de Rodrigo no início da década. A mudança formal que apresenta, relativamente às composições mais coloridas e dinâmicas da primeira metade da década, indicia a sua maior concentração na problemática da pintura. Os pictogramas e as palavras, contornados e preenchidos alternadamente a preto, branco e castanho, são distribuídos sobre um fundo ocre, indicando a presença de estradas, pontes, rios, povoações, caminhos, numa figuração voluntariamente depurada. Na constituição deste léxico pictográfico, Joaquim Rodrigo utiliza a mão esquerda num esforço de desaprendizagem do traço. Interessa-se igualmente pelo desenho infantil, pela pintura pré-histórica, pelas pinturas murais da Lunda, pela pintura aborígene com os seus conjuntos de signos simbolizando elementos naturais, aldeias e caminhos, numa extraordinária imagética de ordenação territorial. O momento do desenho parece ser aquilo que na obra posterior do pintor mantém uma maior espontaneidade, apesar da recorrência da utilização de pictogramas entre várias pinturas.

 

 

Ana Vasconcelos

Maio de 2010

 

 

* Joaquim Rodrigo. Catálogo Raisonné, Lisboa, Museu do Chiado, 1999, p. 411.

** «O abstraccionismo não me satisfez, após sessenta eu quis contar histórias nos meus quadros», in idem, p. 210.

TipoValorUnidadesParte
Altura96cm
Largura145cm
Tipo data
Texto27.9.69
Posiçãoverso, canto superior direito
Tipo título
Posiçãoverso, canto superior direito
TipoAquisição
DataSetembro de 1968
50 Anos de Arte Portuguesa
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2007
ISBN:978-972-678-043-4
Catálogo de exposição
50 Anos de Arte Portuguesa
Fundação Calouste Gulbenkian
Curadoria: Fundação Calouste Gulbenkian
6 de Junho de 2007 a 9 de Setembro de 2007
Sede da FCG, Piso 0 e 01
Exposição programada pelo Serviço de Belas-Artes e pelo Centro de Arte Moderna, da Fundação Calouste Gulbenkian. Comissariado: Raquel Henriques da Silva, Ana Ruivo e Ana Filipa Candeias
Atualização em 23 janeiro 2015

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