• 1966
  • Platex
  • Colagem e Óleo
  • Inv. 83P523

Rolando Sá Nogueira

L’Étude Académique II

Pintura de grande formato apresentada pela primeira vez em 1966, na exposição de Rolando Sá Nogueira na Galeria 111, L’Étude Académique II inscreve-se num conjunto de trabalhos realizados após a estadia do artista em Londres, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. No seu regresso a Lisboa, em 1965, a influência da cultura urbana britânica faz-se sentir na introdução da colagem como técnica que permite uma manipulação rápida de signos e iconografias de fontes diversas, da ilustração ao cartão postal, nas obras que então realiza.

 

Mas, ao contrário do que sucede com as séries de colagens de 1964 (High Life ou Natureza-Morta), em que as imagens gráficas rasgadas, as sobras de telas ou os papéis colados são plenamente visíveis e mantêm dentro do quadro uma autonomia plástica, no conjunto a que pertence L’Étude Académique II o artista parece retroceder: a colagem de papéis é então relegada a uma dimensão técnica praticamente imperceptível, camuflada sob a cor e o desenho aplicados manualmente; 42 poses com o modelo vivo alinham-se no plano do quadro numa sequência de compartimentos nos quais o corpo feminino é repetidamente tratado com variações de traço e tonalidade, que individualizam cada imagem num ponto de vista particular da figura e dos cenários onde ela evolui.

 

As variantes tonais e gráficas, a factura expressionista na aplicação das cores, não permitem todavia que a imagem de conjunto seja totalmente dominada por uma ordem regular. O artista, aliás, não deixa de obliterar intencionalmente a regra compositiva ao diluir sob uma mancha branca a informação contida em três das casas, o borrão informe podendo então ser interpretado como metáfora de um instante de hesitação ou lapso de memória que o artista fixa para sempre no quadro. O primado da subjectividade é assim reafirmado contra a ideia de submissão do fazer artístico a uma disciplina de observação e repetição mecânicas exteriores à sensibilidade pessoal do artista. A numeração dos desenhos não segue ela própria uma progressão regular.

 

Ao abordar um tema de tradição histórica afecta à aprendizagem por observação do visível cara ao academismo oitocentista, Sá Nogueira projecta um olhar de ironia distanciada sobre o ofício de pintar ou sobre os constrangimentos (técnicos e sociais) que assombram o artista. Assim, de certo modo, podemos considerar L’Étude Académique II na perspectiva de um regresso a um lirismo expressionista moderado, anterior à experiência londrina de Sá Nogueira. Depois do ensaio com as colagens de 1964-65, e eventualmente da má recepção destas pelo público, o artista parece ter sentido a necessidade de inflectir o seu percurso criativo em função de um compromisso ponderado com a pintura. No entanto, esse possível compromisso (não totalmente desejado?) seria de curta duração. A partir de 1967 e sobretudo de 1969, com as séries Shunga e Erotropo, o artista voltaria a assumir plenamente a sua sede de liberdade na concepção plástica e iconográfica, recuperando também temas caros à sua personalidade: o erotismo, a crítica da cultura (O Marialva, c. 1971 ou Misses, 1973), o jazz

 

Ana Filipa Candeias

Maio de 2010

 

 

TipoValorUnidadesParte
Altura180cm
Largura150cm
Tipodata
Texto66
Posiçãofrente, canto inferior direito
Tipoassinatura
TextoSá Nogueira
Posiçãofrente, canto inferior direito
TipoAquisição
DataAbril 1983
Sá Nogueira Retrospectiva
Lisboa, Museu do Chiado, 1998
ISBN: 972-8137-91-5
Catálogo de exposição
Sá Nogueira Retrospectiva
Museu do Chiado
Curadoria: Maria Jesús Ávila
13 de Março a 31 de Maio de 1998
Museu do Chiado, Lisboa
Atualização em 23 janeiro 2015

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