- 1988
- Papel fotográfico
- Inv. 94FE46
Craigie Horsfield
Leszek Mierwa, ul. Nawojki, Kraków, August 1984
Craigie Horsfield surge como fotógrafo – com uma primeira exposição individual em Cambridge –, no mesmo ano e para a mesma ocasião em que imprime a fotografia tirada ao operário polaco Leszek Mierwa, fotografado quatro anos antes, no Verão de 1984, em Cracóvia. A impressão da imagem a preto e branco, num grande formato quadrangular – uma forma intencionalmente disciplinadora* –, com destruição do negativo, estabelece, a partir desta data, os principais termos do seu invulgar trabalho fotográfico, que rapidamente ganha reputação internacional. Horsfield inova igualmente no modo de exposição das suas fotografias, recorrendo por vezes a projecções de imagens em múltiplos ecrãs e à utilização de som, o que lhe permite criar instalações fotográficas.
Com uma formação artística iniciada pela pintura – na St. Martin’s School of Art, Londres, entre 1969 e 1972, onde igualmente estuda fotografia –, o trabalho de Horsfield leva-o constantemente de volta à pintura. O jogo de distância-proximidade entre as duas linguagens encontra expressão no hiato temporal que, nalgumas imagens, separa o registo fotográfico da sua impressão; interregno que implica um recuo físico e crítico, entre o tempo de captação da imagem e o tempo da sua revelação e exposição. Tem igualmente expressão na medida extrema que é tomada com a destruição do negativo, o que faz da imagem uma vez impressa, uma imagem única, anulando a possibilidade da sua reprodutibilidade e o cliché que refere a tendência imediatista da fotografia vista como “arte de captação do momento”. A vontade de ocultação da imagem – traduzível também no jogo de claro-escuro em que envolve os seus modelos –, a consciência do jogo infindável com a visibilidade do visível, e uma exacta percepção do momento histórico vivido, levaram-no a não apresentar publicamente a sua obra antes do final dos anos 80.
Craigie Horsfield considera a fotografia parcialmente responsável pela formação da percepção e da consciência humanas do mundo real e das mudanças que este atravessa. Citando Nadar, defende que o fotógrafo deve «agarrar moralmente o modelo».** No entanto, tem consciência de que apenas vê a evidência do ser dos seus modelos e que é esse o registo que perdura no tempo. Os seus retratos procuram captar a tensão entre a consciência da individualidade dos retratados e o facto de pertencerem a uma trama social, a um corpo colectivo. O indivíduo surge neles enquanto sujeito discreto, anónimo, mas não massificado. Neste sentido, ganham especial importância as imagens que fez em 1984, na sua revisitação a Cracóvia – onde viveu entre 1972 e 1979 –, nas vésperas da democratização do primeiro país do leste europeu a sair do jugo da Cortina de Ferro. Já então, o seu trabalho fotográfico revelava o interesse por um novo paradigma social que dá prioridade à vida privada, às “histórias de vida”, baseando a sua concepção de humanidade na atenção dada ao indivíduo isolado. O mundo é esta pessoa, por exemplo, Leszek Mierwa, cuja individualidade é paradoxalmente reconhecida e negada pela imagem impressa.
Ana Vasconcelos
Maio de 2010
* «Craigie Horsfield. A discussion with Jean-François Chévrier and James Lingwood», in Craigie Horsfield, London, Institute of Contemporary Arts, 1991, p. 10.
** Idem, p. 19.
Largura | 140,5 | cm | papel |
Altura | 149,5 | cm | papel |
Altura | 162 | cm | c/moldura |
Largura | 153,5 | cm | c/moldura |
Tipo | Aquisição |
Data | 1994 |
Ana Vasconcelos, «Em relaçãp», julho de 2020. Disponível em: https://gulbenkian.pt/cam/as-escolhas-das-curadoras/em-relacao/ |
Craigie Horsfield: Relation |
Jeu de Paume |
Curadoria: Jorge Molder |
15 de março de 2007 a 3 de junho de 2007 |
Museum of Contemporary Art, Sydney |
25 de julho de 2006 a 24 de setembro de 2006< |
Piso 1 do museu do CAM, Lisboa |
31 de janeiro 2006 a 30 de abril de 2006 |
Galerie Nationale du Jeu de Paume, Paris |
Exposição organizada pela Galerie Jeu de Paume em colaboração com o CAMJAP/FCG e o Museum of Contemporary Art, Sydney. Comissariado: Régis Durand e Véronique Dabin com a assistência de Edwige Baron. |