• Bronze patinado
  • Inv. 81E436

Canto da Maya

La Femme au Miroir (“Métisse se Regardant dans un Miroir”; “Femme à la “Toilette”)

Femme au Miroir foi mostrada por Canto da Maya no Pavilhão de Portugal da Exposição Colonial de Paris (1931), a par de dois baixos-relevos coloridos com casais africanos e asiáticos entre plantas e pássaros tropicais. O tema tradicional da mulher olhando-se ao espelho remonta à antiguidade clássica e à estatuária hindu (pela qual Maya tinha particular fascínio), em imagens erotizadas, intimações de mortalidade e ideias moralistas sobre vaidade feminina. A renovação moderna deste tema histórico pelo escultor açoriano – como Brancusi (1909) e Picasso (1931) antes dele – reinventa, na linguagem peculiar da sua obra tardia, a figuração da escultura grega arcaica, sob um signo exótico-erótico raro. Na linearidade do traje, no tratamento do cabelo, na silhueta expressiva e no modelado sóbrio, a sua preocupação formal decorativista refreia todavia qualquer sexualidade explícita. Apesar das roupas caídas, arranjando-se ao espelho, enquanto outra figura se esconde nas suas costas, contemplando-a, a elegante estilização déco procura inseri-las no lado menos carnal e mais imaterial do simbolismo tardio, segundo o virtuosismo e a idealidade que envolvem em harmonia plástica este enorme volume, e todas as tensões próprias da composição dramática.

 

Todavia, o olhar voyeur central neste motivo, ao apresentar o ritual privado da toilette como exaltação pública da nudez feminina, é inscrito não só nessa expressão exótica do escultor que a crítica francesa atribuía então à condição lusitana, mas em convergência com o discurso tropicalista da própria exposição, à volta da construção da figura libertina da “mestiça”*, cuja emanação física não tem par entre as figuras femininas de Canto da Maya. Entre as suas criações mais estimadas, esta escultura em bronze, dita Femme au miroir, Métisse se regardant dans un miroir, ou Femme à la toilette, deu origem a uma versão em terracota no Musée des années 30, Boulogne-Billancourt, em Paris, e em pedra para o Jardim do Campo Grande, em Lisboa (1938).

 

 

Afonso Ramos

Março de 2013

 

 

* A figura exótica da métisse era, além de tropo artístico e categoria racial discutida por cientistas, um grave problema político abordado na Exposição Colonial de Paris (1931), cujo Congresso de Feministas Francesas evidencia o estigma social da sua conotação com relações ilegítimas e casos de prostituição nas colónias, impedindo muitas de obter cidadania francesa. Cf. Amy Bingaman, Lise Sanders, Rebecca Zorach, Embodied Utopias: Gender, Social Change, and the Modern Metropolis, London: Routledge, 2002.  

 

 

TipoValorUnidadesParte
Altura141cm
Tipo assinatura
Data1981
Atualização em 23 janeiro 2015

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