É interessante notar nesta imagem um conjunto de dualidades que fazem parte da sua história e das suas aparições no tempo. Trata-se da impressão de uma prova em negativo na qual, contrariamente às aparências, não temos uma visão do exterior de uma casa e de uma janela, em que estão penduradas duas peças de roupa ao Sol, mas sim do interior de um pequeno quarto, denunciado pelas riscas verticais laterais que são o forro em tábuas corridas de madeira, olhando uma janela.

No entanto, em impressões mais recentes (2004/2005), a imagem encontra-se invertida horizontalmente, com a janela aberta para o lado direito, e com o título Aquecimento Solar, em vez do título original Janela.

É uma vez mais, como por vezes acontece na obra de Lemos, um exercício de percepção aquele que o autor nos propõe. Ele equaciona o real não apenas como aquilo que vemos mas como uma construção dual e dinâmica, feita de duas realidades que se complementam (positivo/negativo, verso/reverso, luz/sombra, matéria/anti-matéria). Esta construção só a fotografia, pelas suas inerentes características, permite pôr em evidência.

JO
Dezembro de 2010