• 2006
  • Vídeo
  • Inv. IM28

Vasco Araújo

Hereditas

Este vídeo tem uma particularidade única na obra de Vasco Araújo, não tem som nem palavras, nem ditas nem escritas, nada, a total mudez.

 

Filmado no Caramulo, uma vila na montanha no centro interior de Portugal construída no século passado para ser uma estância médica para tratar tuberculosos e hoje com a erradicação da doença um cenário de edifícios desafetados e sem função, Hereditas desenrola-se em torno de uma criança, uma menina.

 

O início do vídeo é a menina na floresta – que pela ausência de eucaliptos nos poderia remeter para outras latitudes mais nórdicas e conhecendo-se a história do Caramulo a alusão à Montanha Mágica de Thomas Mann é inevitável – caminhando, sozinha, intemporal e imaculadamente vestida de branco com um laço enorme. Um laço grande, teatral, a emoldurar-lhe os cabelos loiros, um adereço que funciona como um alerta de que vamos assistir a algo de excecional, de fora do comum num lugar fora do tempo. A beleza da floresta, os raios de sol a travessar a folhagem das copas das árvores, a clareira e a menina sentada a mexer na terra, a desenterrar algo que depois carrega num pano que arrasta pelo chão. Um pano demasiado grande para o corpo franzino. A menina deixa a floresta e chega ao fundo de uma enorme escadaria que dá acesso a um edifício algo majestoso e claramente abandonado (o antigo sanatório para crianças). Entra e inicia um percurso por corredores vazios, sempre sozinha, desassombradamente sozinha chega aos puxadores das portas e abre-as, umas atrás das outras, até chegar a uma sala em que deposita o conteúdo do pano. Vemos então que são ossos que ela transportou e que diligentemente desenterrou no pinhal, um tesouro bem guardado. Ossos humanos. A caveira em cima da pilha de ossos não deixa espaço para dúvidas.

 

Os planos são agora aproximados, o branco é a cor predominante, o branco velho e usado dos azulejos da sala e da bancada, o branco dos ossos, do pano que os carregou, do vestido da menina. Nesta espécie de capela dos ossos privada e secreta ninguém parece ver ou ouvir a menina a brincar com os ossos, a tocar-lhes, a cobrir e a descobrir, a empilhá-los tentando reconstruir a coluna vertebral.

 

Hereditas é uma obra sobre a infância, a solidão, a dor, o amor, a morte e o desejo de conhecimento e compreensão dos grandes enigmas e interrogações da condição humana.

 

Isabel Carlos

 

Abril de 2013

 

Tipo Aquisição
Data Novembro de 2007
Atualização em 23 janeiro 2015

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