O título desta série de quadros, desenhos e colagens, foi sugerido a Lapa por um comentário de Fernando Pernes, em artigo publicado na revista Colóquio-Artes (Junho de 1978), onde lhe atribui um precedente, um “ressuscitar fantasmas” do pintor Paul Gauguin. Mas este desenho não tem qualquer referência à obra do pintor francês. Lapa recupera aqui um dos seus signos visuais recorrentes, a silhueta negra, utilizada na série Milarepa, alusiva ao poeta e santo tibetano do século XI. O negro e o vazio dominante do branco, atravessados por uma colagem pontuada a vermelho, remetem para um espaço de ausência. A forma negra, indefinida, da figura em posição de meditação, contrasta com o plano branco e a delineação de um horizonte. No canto inferior direito, o título Gauguin como que substitui a assinatura do autor. O título tem aqui, como em outras obras de Lapa, uma função evocativa de estabelecimento de analogias. Não é a obra de Gauguin que lhe interessa mas sim o exemplo do sujeito que abandonou, sem retorno, as suas raízes civilizacionais ocidentais, tal como Lapa abandonou a sua Évora natal. Na identificação de um duplo do autor, existe neste desenho uma reflexão sobre a auto-representação, sobre a identidade, tal como nas séries Auto e Auto-auto-retratos; um método de conhecimento do próprio eu.
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