Uma placa perfurada, segura por Vespeira e interposta entre ele e a câmara fotográfica, é o artifício utilizado para a desmaterialização das personagens em pequenos pontos luminosos que, teimosamente, o observador tenta reconstruir num todo coerente, sem se preocupar com a realidade dada a observar por Vespeira – a própria placa.

Estabelece-se deste modo um jogo de perceção, através de uma trama produzida por um objeto real que na circunstância é investido apenas de uma função mediadora.

Estas dinâmicas de materialização/desmaterialização, de realidade/ficção, são estratégias particularmente exploradas em fotografia pelo surrealismo que, usando processos diversificados, subvertem o seu carácter de representação do real para o deslocar para o campo simbólico.

JO
Maio de 2010