Em Entrevelas a estrutura figurativa torna-se dominante, acercando-se de um modo quase cubista de análise e recorte das superfícies. A entropia é aqui perfeitamente controlada e os contornos são rigorosos, apesar do fracionamento e de uma ambígua ou aparente dissolução de tudo na semelhança e na contiguidade.
Alguma memória dos motivos neo-realistas ou até das gares de Almada Negreiros passa por este trabalho, singular no conjunto da obra de Fernando de Azevedo, pela opção estética ainda situável na fronteira dessa herança.
A escala da caravela sublinha a força simbólica esmagadora do elemento marítimo para o qual remete, com toda a história empreendedora de conquistas nele implicadas. A linha de horizonte, de praia, de morro e de céu, percetíveis por trás, inscrevem a embarcação num espaço realista que se transforma agora em geografia da quimera. A multiplicação das velas num crescendo de elevação e complexidade é análoga duma vontade de pesquisa pictórica intensamente preenchida, que assume experimentação livre e referências várias, simbolismo e surrealismo, figuras e força da forma.
Leonor Nazaré
Março de 2013