Pertencente ao período das tauromaquias de Júlio Pomar, que decorre entre 1960 e 1966, esta gravura retrata um dos motivos recorrentes dessa produção: uma entrada de touros. O movimento — um dos eixos cruciais da sua pesquisa plástica de então — é descrito numa diagonal na obra, já que o grupo de cavaleiros e touros avança do canto superior direito para o canto inferior esquerdo, como se, ao longo das várias obras que dedica ao tema, experimentasse as possibilidades não só de expressão do movimento, como as suas hipóteses de encenação dentro do espaço cénico definido pelos quatro limites da obra.

 

A diagonal, que aqui funciona como eixo estruturante da composição, confere, por si só, dinamismo à obra. No entanto, o tipo de mancha pela qual opta para a figuração das personagens, como se de pinceladas rápidas a negro se tratassem, corrobora essa sensação. O tropel da corrida dos cavalos e dos touros é expresso pelo avanço da parte dianteira dos seus corpos relativamente à parte traseira dos mesmos e pela desmultiplicação das suas patas, estratégia expressiva que traduz a corrida e a sua velocidade.

 

Deste modo, as opções de figuração, de composição, as sugestões de movimento e as diferentes escalas das figuras — note-se como o cavalo, cavaleiro e touro em primeiro plano, no canto inferior esquerdo, apresentam uma escala maior do que os touros em último plano, no canto superior direito — instituem o espaço em que se inscrevem, representado abstractamente em tons ocre, fazendo assim ressaltar o negro das figuras. Porém, os arabescos a negro que vemos na parte superior da composição sugerem que apenas nos é dada uma visão parcelar da cena, um close up de um plano geral. Também assim, e não só pela diagonal, Pomar testa os limites da obra, problema que desde cedo o ocupou e que não deixará de problematizar e questionar plasticamente. 

 

 

 

Luísa Cardoso

Fevereiro 2015