• 2002
  • Ferro
  • A definir
  • Inv. 02E1226

Rui Chafes

Durante o Sono

Quando Rui Chafes refere o facto de a sua obra ser quase barroca, por se basear no princípio da ilusão, di-lo a propósito desta bola de ferro pintado, que considera uma suma de longos anos de trabalho. O ferro tem sido o material de eleição das suas esculturas, pintado de preto ou cinzento «para que se esconda como material».*

 

Em Durante o Sono o artista explora, como em muitos trabalhos, uma falsa leveza, uma qualidade de potencial transmutação que deve advir dessa linha contínua, que quer tornar perceptível, entre as formas orgânicas da natureza e os dispositivos mecânicos do que poderiam ser, aos nossos olhos, máquinas de guerra ou de tortura; entre um estado de alma e uma compreensão do mundo que pressente que há algo para além do visível; entre a dor ou a consciência da morte e a exaltação da beleza, de ressonância romântica. «A morte é o que nos mantém acordados», dirá.

 

Eleva-se uma esfera negra e pesada, como sucede com algumas outras obras da mesma série. Um ponto negro na matéria. A sua suspensão/elevação/ amparo figura uma derivação, filamentos, uma escorrência daquela matéria. Indicia mobilidade e enraizamento. A matéria densa e escura sobra, deixa rasto; ou ganha raízes, pernas, tentáculos, esboça um carácter orgânico. E permite, na zona desses suportes, que o vazio seja parte deste volume, que ele se recorte, faça parte da força de elevação; que o perímetro da obra se abra a alguma indefinição e o destino da esfera também. O equilíbrio é dado como sólido, mas inesperado, a relação da imagem de peso com a de fragilidade, invertida, a questão da gravidade interrogada. O título Durante o Sono referir-se-á a um momento de pesadelo? Este organismo figura o próprio sono? Ou uma percepção assustadora da sua estranheza?

 

Dentro da série de bolas negras sobre filamentos que realizou entre 1998 e 2001, encontram-se títulos elucidativos como Suave medo escuro, Amanhecer, Respiração, A Alma, prisão do corpo, A tua sombra… A crença de Chafes na capacidade mobilizadora da arte e na sua função de catalizador no conhecimento das forças escondidas que nos habitam e habitam a natureza, levam-no a afirmar: «Para mim, o importante é a radiação, a energia que um objecto possui, é aí que reside o meu trabalho. Por isso não faço múltiplos. Interessa-me a alma de um objecto»; e mais adiante: «Se a arte não nos desperta, então não há razão para a fazer. E quem a contemplar perderá o seu tempo.»**

 

 

Leonor Nazaré

Maio 2010

 

 

* Em «Conversa entre Rui Chafes e Doris Von Drathen, Guincho, 19 de Outubro de 2001», in Rui Chafes, Um Sopro (esculturas 1998-2002), Porto, Galeria Graça Brandão, 2003, p. 244.

** Idem, pp. 246-247.

TipoValorUnidadesParte
Altura184cm
Profundidade100cm
Largura100cm
TipoAquisição
DataMarço de 2002
Drawing: Drawings and a Sculpture/ Desenho: Desenhos e uma Escultura
Lisboa, CAMJAP/ FCG, 2007
ISBN:978-972-635-187-0
Catálogo de exposição
Densidade Relativa
Lisboa, CAM/FCG, 2005
ISBN:972-635-169-x
Monografia
Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão: Roteiro da colecção
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2004
Roteiro
Rui Chafes
Lisboa, Editorial Caminho, 2006
Monografia
Ash Flowers
Esbjerg / Copenhaga, Esbjerg Kunstmusum / Nikolaj Contemporary Art Center, 2003
Monografia
Rui Chafes: Um Sopro (Esculturas 1998- 2002)
Porto, Galeria Graça Brandão, 2003
Catálogo
Comer o Coração. Rui Chafes. Vera Mantero
Lisboa, Instituto das Artes, 2004
Monografia
Densidade Relativa
Leonor Nazaré
Curadoria: Leonor Nazaré
27 de Outubro de 2005 a 22 de Janeiro de 2006
HALL de entrada e Piso 1 no CAMJAP
12-8-2006 a 26-11-2006
Centro Cultural Emmerico Nunes e Centro das Artes de Sines
A ideia de trabalhar o conceito de densidade das obras começou por surgir com a constatação de que a palavra é muito frequente nos textos de crítica de arte. O mesmo acontece com a palavra intensidade que facilmente se associa à primeira. Rapidamente se percebe que densidade pode ser sinónimo de riqueza ou de impenetrabilidade, quando não se refere mais literalmente à acumulação de elementos no espaço, por oposição ao vazio ou à rarefacção. O pensamento em torno destas variantes conduziu à percepção de que o conceito poderia ser útil no estabelecimento de um contínuo entre a matéria do pensamento e a dos corpos e objectos, neste caso, a das obras de arte.
Drawing: Drawings and a Sculpture/ Desenho: Desenhos e uma Escultura
Presidência da República
Curadoria: CAMJAP/FCG
12 de Janeiro de 2007 a 28 de Janeiro de 2007
Indira Gandhi National Centre for the Arts, Nova Deli
Exposição de obras portuguesas na colecção do CAMJAP/ FCG. Exposição organizada por ocasião da Visita de Estado à República da Índia do Presidente da República Portuguesa, Cavaco Silva.
Rui Chafes
Esbjerg Kunstmuseum
Curadoria: Esbjerg Kunstmuseum
22 de Novembro de 2003 a 18 de Janeiro de 2004
Esbjerg Kunstmuseum, Copenhaga
Exposição organizada pelo Esbjerg Kunstmuseum e pelo Nikolaj.
Himmelschwer - Transformationen der Schwerkraft
Kulturzentrum bei den Minoriten
Curadoria: Kulturzentrum bei den Minoriten
11 de Abril de 2003 a 15 de Junho de 2003
Kulturzentrum bei den Minoriten, Graz
Exposição organizada pelo Kulturzentrum bei den Minoriten em cooperação com o Joanneum, no âmbito de "Graz 2003 - Capital Cultural da Europa". O tópico da exposição é a gravidade na arte, considerando desde motivos religiosos barrocos até trabalhos de arte contemporânea.
Ash Flowers. Rui Chafes
2003-11-22 a 2004-01-18
Esbjerg Kunstmusum
2004-02-07 a 2004-03-12
Nikolaj Contemporary Art Center, Copenhaga
Comer o Coração, representação portuguesa na 26ª Bienal de S. Paulo
2004 a 2004
S. Paulo
2005 a 2005
Centro Cultural de Belém, Lisboa
Atualização em 23 janeiro 2015

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