- 1975
- Papel
- Guache
- Inv. DP237
Paula Rego
Contos Populares Portugueses:Branca Flor – o diabo e a diaba na cama
O empenho na descrição decorativa de padrões que perpassa toda a série Branca Flor adquire em O Diabo e a Diaba na Cama uma nova formulação: Paula Rego opta por representar o fundo como se de um padrão heráldico se tratasse e por desenhar as figuras do diabo e da diaba sobre esse fundo, como se pairassem sobre a cama sem gravidade. A bidimensionalidade deste fundo apenas é contrariada — relembrando-nos que de uma cama se trata — com o jogo pouco convicto (porque também ele fortemente bidimensional) da parte de tecido com que a diaba parcialmente se cobre e com os traços negros na parte inferior da composição, os quais, embora representem as dobras do tecido, não abdicam da sua intrínseca bidimensionalidade de traço.
Porém, a majestade de tal matrimónio logo é desmistificada pela forma como representa as personagens. Nalgumas versões do conto, o diabo e a diaba são os pais de Branca Flor, responsáveis pelas provações que o rapaz tem de passar para conquistar o direito de se casar com a sua filha. Contudo, a perseguição ao rapaz não termina com o casamento. Na noite de núpcias, inicia-se uma nova perseguição e é esse momento de maquinação por parte do diabo e da diaba, enquanto aguardavam que o jovem casal adormecesse, que é retratado. O fracasso futuro do empreendimento dos diabos é aqui antecipado pela forma derrotada como os retrata, bem como a divisão de tarefas nessa perseguição ao jovem casal: a diaba planeia, prevê e lidera, o diabo executa e fracassa, pois não consegue antecipar a astúcia (feminina) da filha.
Todos estes elementos narrativos são transformados pela leitura plástica de Paula Rego. Parecendo recorrer ao género do retrato de casais reais, as duas personagens surgem centradas, mas relativamente alteadas; a diaba, onde imperam os tons vermelhos, olha para o diabo e sujeita-o, agarrando com uma mão um tecido em jeito de trela; o diabo, onde predominam os tons de verde, olha em direcção semelhante, esquivando-se, parece, ao olhar e às instigações da diaba. As expressões de ambos os rostos prenunciam, todavia, o fracasso das suas estratégias.
O prazer na exploração do desenho manifesta-se na sinuosidade da linha das caudas do casal ou dos chifres do diabo — o que empresta dinamismo a este “retrato” tendencialmente estático —, na construção de volumes através do traço, mas, sobretudo, na tensão constante entre uma hesitante tridimensionalidade das figuras e a assumpção da bidimensionalidade do desenho.
Luísa Cardoso
Julho 2014
Tipo | Valor | Unidades | Parte |
Comprimento | 50 | cm | |
Altura | 70 | cm |
Tipo | título |
Texto | Branca Flor - o diabo e a diaba na cama |
Posição | Verso, margem inferior |
Tipo | Aquisição |
Data | 1976 ? |
50 Anos de Arte Portuguesa |
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2007 |
ISBN:978-972-678-043-4 |
Catálogo de exposição |
Representação Portuguesa à XIII Bienal de São Paulo |
São Paulo, XIII Bienal, 1975 |
Catálogo |
Paula Rego |
Lisboa, Galeria 111 / Quetzal, 1992 |
Monografia |
Paula Rego |
Lisboa, CAM - Fundação Calouste Gulbenkian, 1988 |
Catálogo |
50 Anos de Arte Portuguesa |
Fundação Calouste Gulbenkian |
Curadoria: Fundação Calouste Gulbenkian |
6 de Junho de 2007 a 9 de Setembro de 2007 Sede da FCG, Piso 0 e 01 |
Exposição programada pelo Serviço de Belas-Artes e pelo Centro de Arte Moderna, da Fundação Calouste Gulbenkian. Comissariado: Raquel Henriques da Silva, Ana Ruivo e Ana Filipa Candeias |
Representação Portuguesa à XIII Bienal de São Paulo |
José Sommer Ribeiro |
Curadoria: José Sommer Ribeiro |
Representação Portuguesa à Bienal de 1975, organizada por José Aleixo da França Sommer Ribeiro. |
Paula Rego |
CAM/FCG |
Curadoria: CAM/FCG |
1988-05-05 a 1988-06-05 Galeria de Exposições Temporárias da Fundação Gulbenkian, Lisboa |
1988-06-20 a 1988-07-31 Casa de Serralves, Porto |
Exposição retrospectiva organizada e seleccionada por Paula Rego, José Sommer Ribeiro, Maria José Moniz Pereira e Ruth Rosengarten. |