Nas tiragens mais antigas, que integram as coleções do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian e do Museu Nacional de Arte Contemporânea, esta imagem tem o título de Coisas do Vidro. Porém, numa impressão mais recente para a coleção Berardo, Lemos atribuiu-lhe o título Coisas da Água.

Aparentemente nenhum dos títulos nos esclarece sobre a obra em si. No entanto, numa análise mais cuidadosa e numa conversa com o autor na altura (2003) ambos os títulos se revelaram importantes na descodificação da génese desta obra. Contrariamente ao que se poderia pensar, não corresponde a uma tela em cima de um cavalete, mas sim a uma placa de vidro intervencionada por Fernando Lemos em ambas as faces, através de colagens e do gotejar de água em tinta, que se expande de uma forma espontânea em manchas.

A inclusão de um cavalete dá uma conotação de pintura à intervenção de Lemos que, deste modo, cruza na obra a sensibilidade do artista plástico e a linguagem da fotografia como registo.

José Oliveira
2022