O rigor do paralelismo entre a fotografia da escultura e a linha de corte entre a sombra e a luz pode sugerir que a mesma tenha sido colocada propositadamente na janela para a obtenção da imagem, constituindo uma encenação. Por outro lado, pode ter sido apenas o resultado do olhar atento de Fernando Lemos que se deparou com esta situação.

Na incerteza de qualquer um dos cenários, o importante é notar o olhar do artista na analogia que fez entre uma realidade do quotidiano, no título atribuído à obra, e uma narrativa imaginada a partir elementos que apenas o sugerem.

Fernando Lemos surpreende-nos muitas vezes nos títulos que dá às suas fotografias, dirigindo o observador para narrativas específicas que resultam da singularidade da sua observação, como neste caso ou em Hospital de Bonecas. Outras vezes, o título pode estar relacionado com a história de determinado objeto (Manequim de Exposição, também designado pelo autor de Manequim Assediado), ou atribuído por via de ficções criadas por si (Nu de Ensaio, também designado pelo autor de Caça ao Búzio). De notar a dinâmica de alguns títulos, atribuídos por Lemos em diferentes tempos e contextos expositivos.

José Oliveira
2022