Na imagem as mãos de Vespeira e Nora Mitrani «reconfiguram» a cabeça de Alexandre O’Neill (1924-1986), o que numa leitura imediata poderia significar uma alegoria ao exercício da poesia surrealista do autor, à subversão e experimentação a que sujeitava as regras da linguagem, permitindo, através da enumeração caótica ou da desconstrução lógica e reconstrução fonética, articular novos sentidos que não estavam à partida determinados.

No entanto, Diógenes Moura, curador de fotografia da Pinacoteca de S. Paulo, no catálogo À Sombra da Luz, À Luz da Sombra que acompanhou a exposição de Fernando Lemos nesta instituição em 2004, refere o seguinte: «Um, o poeta Alexandre O’Neill, queria matar-se e os outros resolveram lhe fazer uma lavagem cerebral.»

Na verdade, a génese desta imagem reside nesta segunda leitura. Numa altura em que Alexandre O’Neill falava em suicídio nas conversas que mantinha com Fernando Lemos, este, por sua vez e por companheirismo, decide, com a cumplicidade dos amigos, brincar com a situação na simulação de uma «lavagem cerebral» para lhe arredar essas ideias do seu espírito.

JO
Maio de 2010