«Discreto e recatado, delicado e áspero, tinha Casais uma arte de não se entregar nunca […]. De uma independência feroz, e dotado de uma tremenda força de carácter, ninguém conseguia […] acomodá-lo a nada ou a coisa alguma.» Este é o perfil de Casais Monteiro traçado pelo seu amigo Jorge de Sena, que poderia ser de igual modo uma descrição da imagem de Lemos registada num tempo em que os três ainda se encontravam em Lisboa.

Porém, esse espírito de independência e grito de liberdade custou caro a Lemos, Casais Monteiro e Jorge de Sena que, asfixiados pelo regime de Salazar, se exilaram no Brasil, «com mais raiva do que saudade», nas palavras do amigo comum José-Augusto França.

Lemos foi o primeiro, em 1953, Casais Monteiro no ano seguinte, e Jorge de Sena em 1959, empobrecendo intelectual e artisticamente um país de si já em crise, que também não tinha acolhido em 1940 Vieira da Silva e Arpad Szenes, ditando igualmente o seu destino para o Brasil.

JO
Maio de 2010