- 1964
- Papel
- Água-tinta e Água-forte
- Inv. GP197
Paula Rego
A Espada de Cortiça
Da praticamente inexistente bibliografia sobre a gravura em questão, consta de um catalogue raisonné sobre a obra gráfica da artista que esta é “uma de duas gravuras políticas”, intitulando-se a outra Quebra-Cabeças, também pertencente à colecção do CAM.*
A partir desta informação e tendo em conta a datação da gravura — 1964 — não é difícil especular sobre os possíveis significados desta gravura surrealista. Sobre um fundo negro, destacam-se três personagens em primeiro plano. A de maiores dimensões sugere um animal quadrúpede, de cujo corpo se destaca um longo pescoço com uma pequena cabeça. Na sua parte traseira, é acoplada uma chave — a espada de cortiça a que se refere o título? Por baixo da figura, em jeito de legenda enquadrada por um rectângulo, lê-se: “PÁTRIA”.
Sobre esta figura, paira outra de menores dimensões. À direita deste grupo, observamos uma terceira personagem, alada, equilibrando-se sobre um alto monociclo ao qual se agarra com uma das patas, parecendo suster, horizontalmente, uma espécie de lança (será esta a espada de cortiça, apontada à cabeça do quadrúpede?). No outro braço, observamos um objecto que se parece a uma Cruz de Cristo.
No contexto de ditadura salazarista e de guerra colonial de 1964, a que aludirá a dimensão política desta gravura? Será a figura central do centauro dominado a metáfora do país e a personagem alada com a Cruz de Cristo (símbolo manuelino reelaborado no neo-manuelino pelo nacionalismo oitocentista e ideologicamente reaproveitado pelo salazarismo) o símbolo da opressão do regime ditatorial? T. G. Rosenthal afirma tratar-se de “uma mordaz sátira política, em que Franco e Salazar dançam em cima das costas um do outro”.** Com efeito, Paula Rego afirma que o “monstro” de quatro patas representa a pátria sobre a qual dançam duas personagens enlaçadas. Pretendia a autora que esta gravura fosse uma crítica irónica ao fascismo, ironia que se destaca na escolha do título: a espada de cortiça, oriunda de contos infantis, não consegue na realidade cortar nada.***
As ambiguidades interpretativas características da linguagem do surrealismo parecem servir para eludir a censura, mascarando uma crítica que não passaria incólume se ousasse explicitar-se.
* Hannah Begbie, “Catalogue Raisonné” in T. G. Rosenthal, Paula Rego. Obra Gráfica Completa, Vol. 3, Lisboa, Cavalo de Ferro/Jornal de Letras/Visão, 2003, p. 255
** T.G Rosenthal, Paula Rego. Obra Gráfica Completa, Vol. 3, Lisboa, Cavalo de Ferro/Jornal de Letras/Visão, 2005, p. 15
*** Depoimento de Paula Rego por correspondência electrónica, datada de 13.03.2014.
Luísa Cardoso
Julho 2014
Tipo | Valor | Unidades | Parte |
Altura | 44,3 | cm | papel |
Altura | 17,8 | cm | mancha |
Largura | 58,7 | cm | papel |
Largura | 24,7 | cm | mancha |
Tipo | data |
Texto | 64 |
Posição | frente, canto inferior direito a seguir à assinatura (por fora da mancha) |
Tipo | assinatura |
Texto | Paula Rego |
Posição | frente, canto inferior direito (por fora da mancha) |
Tipo | n.º de série |
Texto | XIV/XV |
Posição | frente, canto inferior esquerdo (por fora da mancha) |
Tipo | A definir |
Data | A definir |
1/150 Gravar e Multiplicar |
Almada, Casa da Cerca - Centro de Arte Contemporânea, 2009 |
ISBN:9789728794583 |
Catálogo de exposição |
1/150 Gravar e Multiplicar - Gravuras da Colecção do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian |
Casa da Cerca - Centro de Arte Contemporânea |
Curadoria: Casa da Cerca - Centro de Arte Contemporânea |
31 de Janeiro de 2009 a 17 de Maio de 2009 Casa da Cerca |
exposição comissariada por Ana Vasconcelos, Emília Ferreira e António Canau (Comissário científico). |