Pintada em 1935, em Paris, a presente obra é contextualizada por um paradigma criativo com directrizes teóricas no Dimensionismo, cujo manifesto será assinado por António Pedro nesse mesmo ano, e pelo qual o autor afirma a sua procura de extrapolação das fronteiras entre as artes e em particular o entrecruzamento entre a expressão poética e a pintura.
O motivo central da composição – a figura metamorfoseada – é circundado por uma “moldura” textual com potencial evocativo: LA BELLE AU BOIS / DORMANT REVAIT / DES MALADRESSES Á / LA SAVEUR DE LUNE / ET LA LUNE TENAIT / SA BEAUTÈ ENDORMIE. O autor reporta-nos a uma referência literária particular – “La Belle au bois dormant” título original do conto de Charles Perraut de 1697, que narra a história de uma princesa que sucumbe à maldição de um sono de 100 anos. À semelhança de outras pinturas produzidas no mesmo período, tais como Elogio da Loucura, esta pintura não só explora o jogo entre a imagem e a palavra, mas denota também um marcado e progressivo interesse de António Pedro pelo subconsciente e pelo onírico. A valorização da fertilidade inspiradora do sonho, dos dados irracionais, e da imaginação no plano de renovação do imaginário artístico, viria a aproximar o autor do movimento surrealista.
Catarina Crua
Julho 2013