Esta exposição reúne cerca de duas centenas de obras de quarenta artistas portuguesas. O seu objetivo primordial é contribuir para a reparação do sistemático apagamento a que o trabalho destas artistas — como tantas outras, noutras geografias — foi desde sempre votado. Debruçando-se sobre a produção ocorrida entre 1900 e 2020, "Tudo o que eu quero" segue um conjunto de eixos que revelam uma clara vontade de afirmação das artistas perante os sistemas de consagração dominantes: o olhar, o corpo (o seu corpo, o corpo dos outros, o corpo político), o espaço e o modo como o ocupam (a casa, a natureza, o atelier), a forma como cruzam fronteiras disciplinares (a pintura e a escultura, naturalmente, mas também o vídeo, a performance, o som) ou a determinação com que avançam na utopia de uma construção transformadora, de si mesmas e daquilo que as rodeia.
Esses temas surgem com clareza ao longo do percurso, mas escapam à rigidez de uma narrativa fechada. Não foi um guião prévio que determinou a seleção de obras. Foram as obras escolhidas que comandaram o fluxo da exposição, que nos conduziram aos temas, que sugeriram diálogos entre artistas de diferentes gerações e que descobriram as suas mais produtivas ligações. "Tudo o que eu quero" é um corpo orgânico atravessado por correntes, tensões, deslizamentos semânticos e formais — são eles que nos conduzem ao longo das 16 salas e que permitem que a exposição se expanda e ative no espaço e no tempo.
Estas artistas conquistaram o seu lugar, contra todos os obstáculos, pela força da qualidade das suas propostas. Celebrar esta conquista exige resistir à abordagem ilustrativa que uma representação genérica (mulheres artistas) e nacional (portuguesas) sugere. Mas obriga também a que não esqueçamos que, em pleno século xxi, nada está consolidado no que à igualdade de género diz respeito, que estas obras são instâncias de um longo esforço coletivo pelo direito à existência artística plena, e que este esforço deposita no espectador uma esperança e uma responsabilidade acrescidas.